Em tese, Alckmin ainda mantém o discurso de que é cedo para qualquer decisão, que o momento é de se preocupar em fazer um bom governo e deixar a natureza seguir seu curso no tocante à escolha do candidato tucano.
A prática, porém, é bem outra. Pergunte-se ao governador de São Paulo qual será o perfil do candidato ideal na visão do eleitor de 2006, e o que se obtém dele é o desenho de um auto-retrato.
Sem um pingo daquela timidez da qual lança mão quando interessa, Geraldo Alckmin dá o figurino: "O eleitorado vai querer alguém de uma nova geração de políticos, muito mais comprometidos com a ética, com a eficácia administrativa, e muito pouco preocupados em fazer populismo ou despertar fortes emoções."
Ou seja, um competente, mais ou menos estreante, um relativamente desconhecido... picolé de chuchu. O apelido, inventado pelo ex-prefeito Paulo Maluf como tradução pejorativa do jeito pacato e desprovido de arroubos do governador, foi devidamente absorvido e transformado em vantagem comparativa.
"O brasileiro vai sair dessa crise muito mais arguto, sabe que não vai eleger ninguém para fazer graça."
O desconhecimento no plano nacional, Alckmin analisa como um ponto a seu favor. "Se estou com 15% não sendo conhecido, significa a existência de um grande espaço para crescer. Tenho uma avenida enorme pela frente."
Esse problema - que na verdade não qualifica como tal - o governador paulista tem convicção de que resolve com a televisão, porque campanha mesmo, na opinião dele, só começa com o horário gratuito. "Decisão, então, o eleitor só toma depois do 7 de Setembro", ou seja, às vésperas da eleição.
Com a exposição desse roteiro, o governador quer dizer que tem tempo para se mostrar ao País e se tornar tão conhecido quanto qualquer um de seus adversários, dentro e fora do PSDB.
Dentro, sabe que seu maior obstáculo chama-se José Serra, mas não se dedica muito - pelo menos em público - ao assunto nem aceita provocações a respeito. Sobre os 30% do prefeito de São Paulo nas pesquisas contra 33% do presidente Luiz Inácio da Silva, passa batido: "É um retrato do passado, assim como os índices do próprio Lula, de Garotinho e Ciro Gomes."
Alckmin inclui na lista dos pretendentes tucanos, além de si mesmo e de Serra, os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves, e de Goiás, Marconi Perillo, aponta que o senador Tasso Jereissati estará atarefado com a coordenação do processo, se for mesmo eleito presidente nacional do PSDB, e registra a precedência de Fernando Henrique Cardoso sobre os demais, com o cuidado de lembrar que o ex-presidente pode ser uma excelente opção para disputar o governo de São Paulo.
Fora do partido, Geraldo Alckmin não escolhe adversários, preocupa-se com eles mais no âmbito do próprio projeto de se lançar candidato com a sustentação de uma boa aliança partidária. Gostaria muito de contar com o PFL e, olhando para o futuro próximo, defende ardorosamente o apoio do PSDB ao pefelista José Thomaz Nonô para a presidência da Câmara.
No que depender do governador, os tucanos ficam com o PFL até o fim,votando em outro nome "só se Nonô não for ao segundo turno".
Todo esse processo, seja da sucessão na Câmara, seja da crise política mais geral, na opinião de Geraldo Alckmin terá influência direta e profunda na eleição presidencial do ano que vem. As campanhas, independentemente de mudanças ou não na legislação, ele acredita que serão muito mais austeras, com debates concentrados em temas ligados ao bem-estar da população, como emprego, saúde e segurança pública.
Os candidatos terão de se preparar para enfrentar uma exigência redobrada por parte do eleitorado. Na visão de Alckmin, o nível de fiscalização e cobrança será muito superior ao de campanhas anteriores, sem espaço para divagações emotivas tão ao gosto dos publicitários.
"A emoção será traduzida na empatia que o candidato conseguir estabelecer com o eleitorado, fundamentalmente baseada numa relação de confiança. Lula aprofundou muito a distância entre promessas e realizações e, agora, a população vai cobrar do governante uma atitude exatamente oposta, vai querer compromissos com garantias de execução do prometido."
Geraldo Alckmin não vê como efeito da crise o desalento e a indiferença do eleitor em 2006. Ao contrário. Acha que o processo doloroso de esperança e decepção com o PT servirá justamente para aumentar o interesse em eleger gente de boa qualidade a partir de critérios diferentes dos vigentes até a chegada do PT ao poder.
Para ele, por um motivo simples: "O Brasil de hoje não é o mesmo país de seis meses atrás."