O ESTADO DE S PAULO
Saída da esquerda pode não ter peso numérico, mas impõe dano de imagem ao PT A saída de parlamentares, dirigentes e militantes petistas do partido não pode, ao menos por enquanto, ser considerada uma debandada em regra. Os números são um tanto dispersos, mas o que temos grosso modo até agora é a desfiliação de cinco deputados federais, outros tantos estaduais e vereadores, dois dirigentes históricos conhecidos nacionalmente, mais alguns de peso regional, e cerca de mil militantes. Tomando por base os 800 mil filiados do PT, seus ainda 82 deputados federais - a segunda bancada da Câmara, muito à frente da terceira, do PFL, com 58 deputados - e 12 senadores, realmente não é grande coisa em matéria de êxodo. Na conta dos militantes, despedem-se algo como zero vírgula qualquer coisa por cento. Pouco, muito pouco mesmo. Do ponto de vista da quantidade, bem entendido. Sob a ótica da qualidade, da política, da simbologia, da identidade, da massa crítica, por que não dizer, do charme indiscreto, trata-se de um baque sem possibilidade de recuperação à vista. Não foi a atuação da esquerda do partido que levou Luiz Inácio da Silva à vitória afinal, depois de três tentativas. Foi o pragmatismo, o afrouxamento dos padrões éticos, a renúncia ao antigo programa, a adesão ao império da publicidade, a entrada do partido para o mundo dos ricos. Mas foi a presença da esquerda, desse pessoal que agora abandona o partido, em sua maioria para se filiar ao PSOL, que formou a imagem do PT como o construtor do paraíso. Sem aquele ideário, Duda Mendonça não poderia ter vendido a esperança embrulhada naquele invólucro luxuoso de 2002. O PT não perde, de fato, muita gente, mas é subtraído de sua marca. Fica igual aos outros, sem peculiaridades nem bandeiras específicas para motivar o eleitorado. Sem a esquerda, aliás, terá de construir uma nova face e um novo discurso. Terá tempo até a eleição de 2006 e assim, de roupa nova, sustentar a candidatura de Lula à reeleição? A questão por ora é irrespondível. Inclusive porque em função do escândalo ainda em cartaz e de todas as suas circunstâncias, se quiser disputar um outro mandato Lula não vai mais poder recorrer a Duda Mendonça. Também sem a militância, o vigor da esquerda e a esperança representada pela ilusão de uma utopia difusa, ficará desprovido do instrumental que o levou à Presidência. Precisará, pois, de arranjar outros. Ao que se sabe sobre a reação do presidente da República e de seu grupo mais próximo, seja no governo ou no partido, à saída dos antigos companheiros, não houve choro nem vela pela decisão daqueles que há muito já não eram mais considerados petistas de fé. PT de raiz, pela visão de companheirismo vigente, é Professor Luizinho. Por essa concepção, o partido, da forma como está, atrapalha o presidente Lula, funciona como uma espécie de bola de chumbo que ele carregaria amarrada à perna. O novo PT ressurgido do auto-expurgo da esquerda seria, assim, um partido grande sem perfil muito nítido, despido de ilusões e disposto a abandonar a dinâmica do atrito em suas relações internas e externas com o mundo da política em geral. Desse modo, o velho PT renasceria no PSOL e a legenda viraria ela toda um campo majoritário, uma espécie de sucedâneo do PMDB no que tange à vitalidade eleitoral mediana, à resistência na representação parlamentar e à presença da máquina partidária País afora. A diferença é que no PMDB ainda sobrevivem alguns da esquerda - lá conhecidos como autênticos - para imprimir um certo feitiço à legenda, cuja vocação fisiologista do governo José Sarney para cá levou o partido a se dedicar a tarefas meramente utilitárias. Se do PT saíssem todos os não inteiramente pragmáticos, nem o residual encanto pemedebista de um Pedro Simon, por exemplo, lhe sobraria. Estes, entretanto, lá permanecerão por enquanto. Notadamente por medo de sair de forma precipitada, antes de ficar perfeitamente desenhado o novo perfil do partido, e perder sem necessidade a condição legal para disputar a eleição no ano que vem. O que não quer dizer que apóiem a mentalidade preponderante hoje no partido e que, mais à frente, não venham a compor uma nova geração de radicais em relação ao conservadorismo da cúpula. Pererê Tramita na Câmara projeto de autoria do deputado Aldo Rebelo instituindo, em 31 de outubro, o Dia do Saci. Também autor de projeto propondo a proibição do uso de estrangeirismos na língua portuguesa, o candidato a presidente da Câmara diz, em sua exposição de motivos, que a escolha da data foi "estratégica, proposital, simbólica" como forma de reação à recente mania de se comemorar o "Halloween" norte-americano em 31 de outubro. Segundo ele, o Saci "é reconhecido como uma força da resistência cultural à invasão dos X-Men, dos pokémons, os raloins (sic) e os jogos de guerra".
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, setembro 28, 2005
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