FOLHA DE S PAULO
O desenvolvimentismo morreu, o neoliberalismo morreu. O que vem por aí? Esse é o enigma a ser decifrado pelos pensadores, para a próxima etapa do desenvolvimento brasileiro, que virá após as próximas eleições. E as lições estão em um passado não tão distante.
Quando o desenvolvimentista Rômulo de Almeida imaginou a Petrobras, não ousou conferir-lhe o monopólio -que acabou chegando pelas mãos do liberal Bilac Pinto, depois que o engenheiro Fernando Luiz Lobo Carneiro percebeu que, sem estar integrada e protegida, poderia ser varrida do mapa pelas grandes petrolíferas.
Quando se tratou de pensar a capitalização da empresa, mantendo-a estatal, foram grandes liberais como Wolf Klabin e Glycon de Paiva que imaginaram prefeituras adquirindo ações, porque sabiam que o capital privado era insuficiente.
Quando Roberto Campos imaginou o desenvolvimento, no governo JK, a diferença poderia estar em um câmbio desvalorizado, caminho que a Coréia do Sul começou a trilhar naquela época. Ou poderia estar na inovação, que os japoneses já perseguiam, modelo que a criação da Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas) visava reproduzir.
No final dos anos 60, os liberais Roberto Campos, Mauro Thibau -morto da semana passada- e John Cotrim imaginaram a estatização dos serviços de energia, pois sabiam que a iniciativa privada não poderia bancar. No fim dos anos 70, o desenvolvimentista Ignácio Rangel imaginou a privatização dos serviços públicos, pois constatara o estrangulamento fiscal do Estado.
O desenvolvimentismo morreu, na forma como foi imaginado até os anos 80, de reserva de mercado, orientação autárquica na economia, xenofobia, favorecimento a grupos e despreocupação fiscal. O neoliberalismo morreu como foi imaginado nos anos 90, de enfraquecimento do Estado, desatenção para com interesses de país, despreocupação social e ênfase única no equilíbrio fiscal.
Os novos tempos exigirão pragmatismo e o exorcismo das ideologias, agora não só do esquerdismo anacrônico que morreu com a eleição de Lula mas do direitismo raivoso e igualmente primário que está renascendo com o ocaso do governo.
Há enigmas de toda ordem a serem decifrados. Como se colocar em uma mundo em que as oscilações cambiais chegam a 50%, em que as novas formas de produção fazem com que multinacionais transformem países em bases de produção, cujas unidades podem ser remanejadas a qualquer momento?
Mais do que nunca, os ensinamentos do alemão Friedrich List, de 160 anos atrás, servirão para iluminar os novos tempos. List não trazia uma receita única. De um lado, defendia a liberdade aduaneira intrafronteira, para permitir a competição e o fortalecimento do mercado interno. Na outra frente, advogava a proteção da indústria nacional, não a ponto de tirar-lhe o vigor e a competitividade pelo excesso de proteção. Advogava a atração de imigrantes e capitais estrangeiros, por meio da criação de um clima democrático, saudável, estimulador da inovação. Defendia estratégias comerciais maduras, visão diplomática aguda, mas mostrava que, sem um mercado interno forte, sem população educada e incluída, o grande capital jamais permaneceria no país. Poderia até permitir a acumulação durante certo tempo, mas, na primeira oportunidade, o capital mudaria para outras plagas.
Será difícil nesse país sebastianista substituir o pensamento monofásico dominante por formas mais complexas de sonhar o futuro. Mas já se conseguiu em outros tempos. Quando João Paulo dos Reis Velloso junta desenvolvimentistas e monetaristas em seus fóruns, quando Antonio Dias Leite imagina fórmulas de crescimento, quando Hélio Jaguaribe abre o baú do Iseb e quando Eliezer Baptista abre os sonhos da logística, quando Delfim Netto e José Serra articulam pensamentos macroeconômicos racionais, constata-se que idéias existem.
O novo desenvolvimentismo não poderá mais ser erigido em cima de clichês, como fizeram os dinossauros dos anos 80 e os cabeças de planilha dos anos 90. Há um país diversificado, com muitos cérebros pensando de forma desarticulada. Mas pronto a tocar qualquer partitura, quando entrar em cena um maestro estadista.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
setembro
(497)
- A votação mais cara do mundo Bruno Lima Rocha
- LUÍS NASSIF Efeitos dos títulos em reais
- Batendo no muro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Dirceu entre a inocência e a onipotência MARCELO C...
- ELIANE CANTANHÊDE Nova República de Alagoas
- CLÓVIS ROSSI O país do baixo clero
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO O ELEITO DE LULAL
- DORA KRAMER Agora é que são elas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Despudores à parte
- João Mellão Neto Como é duro ser democrata
- Roberto Macedo Na USP, uma greve pelas elites
- EDITORIAL DE O GLOBO Cidade partida
- MERVAL PEREIRA O gospel da reeleição
- Luiz Garcia Juiz ladrão!
- MIRIAM LEITÃO Políticas do BC
- Raça, segundo são João Jorge Bornhausen
- Cora Rónai Purgatório da beleza e do caos
- Fundos e mundos elegem Aldo
- EDITORIAL DE O GLOBO Desafios
- A Derrota Política do Governo!
- MERVAL PEREIRA Vitória do baixo clero
- MIRIAM LEITÃO Sem medidas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Atrasado e suspeito
- DORA KRAMER Muito mais do mesmo
- LUÍS NASSIF Indicadores de saneamento
- ELIANE CANTANHÊDE Vitória das elites
- CLÓVIS ROSSI A pouca-vergonha
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO NORMA ANTINEPOTISMO
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DESVIOS SEMÂNTICOS
- Aldo vence, dá gás a Lula e esperança aos "mensale...
- JANIO DE FREITAS Dos valores aos valérios
- EDITORIAL DO JB A vitória da barganha
- AUGUSTO NUNES Berzoini foi refundado
- Se não se ganha com a globalização, política exter...
- Fome de esquerda Cristovam Buarque
- A valorização do real em questão
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO A debandada dos p...
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Precisa-se de ger...
- Ineficiência fiscal e a 'Super-Receita' Maurício M...
- DORA KRAMER Adeus às ilusões
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO OS DEPUTADOS DECIDEM
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MAIS DO MESMO
- CLÓVIS ROSSI Cenas explícitas de despudor
- FERNANDO RODRIGUES Uma Câmara submissa
- ELIO GASPARI Bicudo foi-se embora do PT
- LUÍS NASSIF A discussão do saneamento
- "Upgrade" PAULO RABELLO DE CASTRO
- EDITORIAL DE O GLOBO Gastamos mal
- EDITORIAL DE O GLOBO Chávez fracassa
- No governo Lula, um real retrocesso HÉLIO BICUDO
- MIRIAM LEITÃO Das boas
- MERVAL PEREIRA A base do mensalão
- A frase do dia
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Desculpas não bastam
- Jóia da primavera Xico Graziano
- Oportunidade perdida Rubens Barbosa
- DORA KRAMER Com aparato de azarão oficial
- LUÍS NASSIF Os caminhos do valerioduto
- JANIO DE FREITAS Esquerda, volver
- ELIANE CANTANHÊDE Todos contra um B
- CLÓVIS ROSSI A crise terminal
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO FRAUDES NO APITO
- Diferença crucial RODRIGO MAIA
- EDITORIAL DE O GLOBO Dois governos
- Arnaldo Jabor Manual didático de ‘canalhogia’
- MIRIAM LEITÃO Além do intolerável
- MERVAL PEREIRA Espírito severino
- AUGUSTO NUNES Os bandidos é que não passarão
- A crueldade dos humanistas de Lancellotti Por Rein...
- O Cavaleiro das Trevas
- Juristas Dizem Que Declarações DE DIRCEU São Graves
- O PT e a imprensa Carlos Alberto Di Franco
- A outra face de Lacerda Mauricio D. Perez
- Reinventar a nação LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- VINICIUS TORRES FREIRE Urubus políticos e partidos
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CHÁVEZ E A POBREZA
- AUGUSTO NUNES Os gatunos estão em casa
- MERVAL PEREIRA O fator Mangabeira
- João Ubaldo Ribeiro Mentira, mentira, mentira!
- MIRIAM LEITÃO Eles por eles
- DORA KRAMER Um perfil em auto-retrato
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Contraste auspicioso
- Gaudêncio Torquato O horizonte além da crise
- São Paulo olhando para o futuro Paulo Renato Souza
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MOMENTO IMPORTANTE
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DÍVIDA EXTERNA EM REAL
- CLÓVIS ROSSI As duas mortes de Apolônio
- ELIANE CANTANHÊDE Malandro ou mané?
- LUÍS NASSIF A reforma perdida
- Para crescer, é preciso investir em infra-estrutur...
- FERREIRA GULLAR Alguém fala errado?
- JANIO DE FREITAS Nada de anormal
- Lula também é responsável, afirma Dirceu
- Augusto de Franco, A crise está apenas começando
- Augusto Nunes Uma noite no circo-teatro
- Baianos celebram volta de Lula a Brasília
- Lucia Hippolito Critérios para eleição de um presi...
- MERVAL PEREIRA A voz digital
- MIRIAM LEITÃO O perigo é olhar
- FERNANDO GABEIRA Notas sobre os últimos dias
-
▼
setembro
(497)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA