Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 14, 2005

Lúcia Hippolito : Os brasileiros não confiam no Estado

O ESTADO DE S PAULO

 

Era inevitável. A nova rodada da pesquisa CNT/Sensus, que investiga o Índice de Satisfação do Cidadão, aponta queda na popularidade do presidente Lula. É um tombo forte: bem perto de dez pontos porcentuais desde julho. Um dos mais intrigantes entre os números divulgados é o índice de confiança no futuro da economia: enquanto em julho 45,6% dos entrevistados achavam que a economia iria melhorar nos próximos seis meses, na última pesquisa este número caiu para 41,2%. É quase um paradoxo. Como entender esta desconfiança do cidadão, quando os números da economia têm sido tão bons nos últimos tempos, constituindo praticamente a única âncora do governo Lula? Mais do que confiança ou desconfiança na economia, o cidadão brasileiro perdeu a confiança no Estado. Não se trata deste ou daquele governo, trata-se de uma desconfiança mútua entre os brasileiros e o poder público. Para a burocracia, o cidadão tem sempre culpa, está sempre devendo, está sempre na obrigação de provar sua inocência com mais um documento, mais uma firma reconhecida, mais uma certidão autenticada em cartório. O cidadão, por sua vez, não confia na palavra do Estado. E com razão. Prometeram aos brasileiros que a caderneta de poupança era intocável. E ela foi impiedosamente violada nos primeiros dias do governo Collor. Prometeram aos brasileiros que a CPMF seria provisória. E ela se tornou dolorosamente permanente. Prometeram aos brasileiros que a tabela do Imposto de Renda seria corrigida com justiça. E não foi. Prometeram aos brasileiros dez milhões de empregos, prometeram aos brasileiros dobrar o valor do salário mínimo. Prometeram, prometeram... Décadas de hiperinflação e de promessas não cumpridas devoraram a capacidade do brasileiro de confiar na palavra do Estado. Hoje ninguém planeja mais nada, vive-se da mão para a boca, consome-se hoje, porque amanhã o Estado pode nos extrair qualquer dinheirinho extra. Por isso, não espanta que a solidez dos fundamentos da economia esteja sendo cantada em prosa e verso e que o cidadão tenha aumentado sua desconfiança em relação ao futuro da economia. O governo brasileiro, qualquer governo, tem um longo caminho a percorrer se quiser recuperar a confiança do cidadão.


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