Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 13, 2005

JANIO DE FREITAS O motivo severo

folha de s paulo
A autenticidade ou não da assinatura de Severino Cavalcanti e a validade ou não de tal ou qual perícia, motivos de tanto palavrório nos últimos dias, são ambas secundárias. Desde que entrou em cena uma denúncia de propina, o que inviabilizaria moralmente Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara, a partir da historiada com o restaurante, é o apontado recebimento de dinheiro. Se comprovado ou, no mínimo, amparado em testemunhos de reconhecida idoneidade, nem se trataria de propina, mas de extorsão.
Não é o caso, também, de considerar-se o risco de golpe para retirar Severino da presidência. A menos que alguém decidisse abatê-lo a tiros, o único meio de afastá-lo é o exíguo recurso oferecido pelo regimento interno, com representação a ser discutida e votada pelos seus pares para cassá-lo. O que de melhor pode haver é a renúncia ou o pedido de licença, por ora recusados, mas não há dúvida de que continuam possíveis. Há indícios de que um deles ocorrerá se as circunstâncias externas ou as internas da Câmara se tornarem muito hostis ao exercício da presidência por Severino.

O inocente
Está previsto para hoje o depoimento de José Genoino na CPI do Mensalão, também chamada de CPI da Compra de Votos. Um trabalhinho a mais para os parlamentares guarda-costas do PT.
José Genoino é mais um inocente de tudo. Em depoimento à Polícia Federal, na terça-feira passada, jogou todas as culpas nas costas de Delúbio Soares, ao qual atribuiu plena autonomia nas atividades financeiras do PT. José Genoino espera que se creia mesmo não só em tamanha autonomia mas também no silêncio absoluto na direção petista sobre tanta movimentação de dinheiro, nem uma perguntazinha de outro dirigente, nem um comentariozinho do mágico Delúbio.
Durante todo o período em que José Dirceu foi o coordenador político do governo Lula, José Genoino foi, além de presidente do PT, o operador dessa coordenação na Câmara, seja o que for que ela implicasse. Os jornais registraram sua presença e suas declarações diárias na Câmara, falando, inclusive, em nome do governo. Ou seja, como extensão da coordenadoria política da Presidência. A constância da presença e da atividade até faziam parecer que José Genoino não desencarnara da perdida condição de deputado.
Em toda aquela fase em que foram transadas na Câmara as transferências partidárias de tantos deputados, engrossando a "base aliada" hoje se sabe por que meios, José Genoino era o executivo da tal coordenação. Em toda aquela fase em que, vê-se hoje, ocorreram pagamentos de Valério/Delúbio para deputados, José Genoino era o executivo da coordenação do governo na Câmara.
Mas, como se espera ver e ouvir logo mais, José Genoino é inocente do que quer que seja. Delúbio Soares foi quem, mesmo à distância, transou as conversas que resultaram nas transferências partidárias e nos votos mal explicados em projetos governamentais e medidas provisórias.

Causa discutível
O senador Cristovam Buarque afinal encerrou a lengalenga de sua saída do PT. Confirmou, em carta, a antes resumida e sempre forte razão do desligamento: sai porque o partido e o governo "abandonaram a causa petista".
Ao que se pôde deduzir, porém, Cristovam Buarque também a abandonara, e na mesma altura dos acontecimentos. Foi sua a opinião de que Lula deveria convidar Pedro Malan a manter-se como ministro da Fazenda. No problema que o governo teve com o PT logo em sua primeira "reforma" de ares neoliberais -a que devastou a aposentadoria de servidores públicos-, Cristovam Buarque fez questão de discursar, na reunião partidária decisiva, pela expulsão dos três parlamentares que se declararam contra a reforma e leais à "causa petista". Discurso dos mais violentos contra Heloisa Helena, Babá e João Fontes.
Cristovam Buarque por certo tem discordâncias com o governo e com o PT. Não é tão certo que sejam com a "causa petista", dita assim com tanta amplitude. Um tanto mais certo do que isso é que suas perspetivas no PT estavam fechadas.

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