Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 13, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Dr. Paulo e Severino

folha de s paulo
 BRASÍLIA - Há muitas diferenças entre Paulo Maluf, que passa uns dias na cadeia com o filho Flávio, e Severino Cavalcanti, que está sob suspeita e tenta se agarrar ao Planalto para resistir à intensa pressão para renunciar à presidência da Câmara.
Maluf, cosmopolita, nascido na principal capital do país e em berço de ouro, é acusado de desviar milhões de dólares de obras públicas para o exterior. Enquanto Severino, da pequena João Alfredo, em Pernambuco, é suspeito de extorquir R$ 10 mil mensais, no Brasil e em reais mesmo, de um fulano que opera restaurantes na Câmara. Os valores são bem diferentes, mas o princípio é igualzinho.
E há muitas outras coincidências entre os dois principais personagens que dividem as manchetes neste momento, dando um certo alívio ao Planalto e aos 18 denunciados pela CPI dos Correios. Por enquanto...
Maluf e Severino são do mesmo partido, o PP, herdeiro direto da Arena e do PDS, que davam suporte político à ditadura militar. Os dois políticos se ressentem de "preconceito"; um por ter origem árabe, outro por ser nordestino. E ambos são pais extremados: Severino sempre dá uma mão para os filhotes arranjarem um bico bem remunerado, e Maluf divide tudo, até mesmo os negócios mais heterodoxos, com o rebento Flávio.
E lá vamos nós, de escândalo em escândalo, de acusação em acusação, de choro em choro, de negativas indignadas em negativas indignadas. A Justiça e o Conselho de Ética da Câmara que tentem digerir tudo e dar uma resposta. E o eleitor que trate de dar um jeito nisso no ano que vem.
Aliás, essa é uma outra enorme diferença entre Maluf e Severino. Maluf nega, nega e nega com todas as forças do seu ser há 30 anos; Severino, há apenas alguns dias. Será que as provas também vão demorar 30 anos?
Até podem, mas há no Congresso a certeza de que o "mensalinho" de Severino existiu. Quase todos os partidos, exceto um ou outro, como o PP, fecham o cerco para derrubá-lo. Politicamente, ele não tem salvação.

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