Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 14, 2005

EDITORIAL DO JB O troco à vista



Se os 100 ruidosos dias da mais séria crise política que atingiu o país desde o impeachment de Fernando Collor não foram suficientes para reprimir o apego do presidente Lula para os discursos desconectados da realidade, os números da pesquisa CNT/Sensus, divulgados ontem, têm força suficiente para devolver o chefe petista à terra firme da sensatez. (Uma terra arrasada, é verdade, pelos abalos éticos, morais e programáticos do PT e muitos de seus líderes e aliados.) Uma pena que os efeitos esperados ainda não sejam percebidos na retórica presidencial. Ao comentar a pesquisa, Lula declarou com a habitual falta de modéstia: ''A sociedade é minha companheira'', discursou, sublinhando que qualquer outro político estaria com a popularidade pior se estivesse em seu lugar.

A despeito de conjeturas vãs e ilusões decorrentes de um autismo preocupante, a pesquisa CNT/Sensus evidencia a amplificação do desgaste. Mostra que não somente o PT e o governo estão atormentados. A crise, revelam os dados, golpeia a imagem do próprio presidente e, mais grave, começa a tisnar a confiança da população brasileira na condução da economia - até aqui, a única fortaleza governamental a sustentar o país em tempos de instabilidade política. Os números são eloqüentes. A aprovação do desempenho pessoal do presidente caiu quase dez pontos entre julho e setembro - deixando a popularidade de Lula no patamar mais baixo desde o início do governo. Simultaneamente aumentou o nível de rejeição do eleitorado ao presidente. Acrescente-se a informação de que mais da metade dos entrevistados refuta a idéia de Lula disputar a reeleição no próximo ano. Mau presságio.

Outro dado substantivo a anotar: cerca de 35% dos brasileiros, segundo a pesquisa, acreditam que a política econômica está no rumo certo. Em julho, esse índice superava os 40%. Em outras palavras, a economia, até o momento sobrevivendo ao vendaval de denúncias e à paralisia do Congresso, aos poucos ameaça ser engolfada pelos abalos políticos. A consumação do pesadelo do Planalto, com perspectivas pouco animadoras para 2006, completa-se com a crescente insatisfação da população com o desempenho na área social. A percepção dos entrevistados é de que a pobreza, a violência e o desemprego aumentaram - temas reconhecidamente relevantes em qualquer agenda eleitoral. Eis um alerta que os especialistas costumam chamar de ''efeito da pedra do rio'': a pedra cai e a onda que daí se forma vai se espalhando e se ampliando.

Desde o início da crise, o Palácio do Planalto apostou que o inferno astral chegaria ao fim com algumas cassações e um bom ambiente econômico. A queda livre da aprovação popular, no entanto, sugere a insuficiência de tal estratégia. PT e governo empenharam-se na tentativa de abafar as investigações. Embora governantes costumem fugir de crises assim - posto que oferecem feições suicidas ao andamento da gestão política, econômica e administrativa -, a população parece identificar como especialmente graves as contradições que rondam o PT, o Planalto e seus morubixabas. Pesam na memória popular, afinal, as bandeiras éticas defendidas nos tempos de oposição. Até chegar ao poder, não eram raros os petistas a deflagrar a fantasiosa idéia de que a legenda estava do lado da pureza. O partido também buscou ser o monopolista da esperança - agora seqüestrada. O eleitor, contudo, ameaça dar o troco e desmoralizar os moralistas do passado.

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