o globo
O inaceitável episódio protagonizado pelo deputado Jair Bolsonaro, que levou ao depoimento do ex-presidente do PT José Genoino na CPI do Mensalão um militar que o prendera durante a Guerrilha do Araguaia, reflete bem o clima que se estabeleceu no Congresso em meio a essa crise política, devido à mais absoluta falta de liderança. Clima de guerra sem cartel, na definição de um parlamentar, guerra "sem respeito à Convenção de Genebra".
O governo perdeu há muito o controle de sua base aliada, que hoje é mais virtual do que real. Alguns dos partidos politicamente relevantes estão sem comando, por motivos diversos.
O PT tem um presidente provisório que desistiu de disputar a eleição no próximo fim de semana porque está sendo contestado pelo Campo Majoritário, até hoje controlado pelo ex-ministro José Dirceu. Sua posição de não aderir, pelo menos enquanto for possível, ao movimento de cassação de Severino deve-se a uma estratégia apequenada do Planalto, mas também à pressão dos cassáveis do partido, que se protegem protegendo Severino.
O PSDB discute quem será seu próximo presidente enquanto o senador Eduardo Azeredo dedica suas energias a defender-se das acusações de ter recebido financiamentos de caixa dois do mesmo esquema do lobista Marcos Valério em 1998. Os presidentes do PP, Pedro Correia, e do PL, Valdemar Costa Neto, estão envolvidos até o pescoço nas denúncias de venda de votos, sendo que o último teve até que renunciar para evitar a cassação.
O PP, com um presidente que teve que contar com a ajuda do presidente da Câmara para não responder a um outro processo, e com o líder José Janene ameaçando o mesmo presidente caso venha a ser cassado, é o exemplar mais característico dessa crise de homens, como definiu o senador José Sarney, e de instituições, que têm como um de seus mais destacados líderes ninguém menos que Severino Cavalcanti.
O presidente de fato do PTB é o deputado Roberto Jefferson, que deve ser cassado, provavelmente hoje. A presidência do PMDB se divide entre o presidente de fato, o deputado Michel Temer, e os líderes políticos do ex-presidente José Sarney e do atual presidente do Congresso, senador Renan Calheiros. Só o PFL mantém-se estruturado nessa guerra sem quartel.
O presidente da Câmara está sendo contestado por uma representação que abarca cinco partidos e mais a dissidência de esquerda do PT, e responde a este voto de desconfiança com ataques pessoais ao deputado Fernando Gabeira que, por si só, justificariam um processo por quebra do decoro parlamentar. Não satisfeitos, seus aliados, que já haviam partido para grosseiras provocações a Gabeira, ameaçam-no, e ao deputado Raul Jungman, de processo de cassação de mandato por terem liderado o movimento contra Severino, numa retaliação insana.
Há um sentimento de "salve-se quem puder" diante da possibilidade de que Roberto Jefferson, em seu último discurso da tribuna hoje, revele novos nomes, como ameaçou nos programas partidários da última semana. Não há mais a possibilidade de uma articulação para que os trabalhos do Congresso não continuem paralisados, nem existe vontade política do palácio do Planalto. A verdade é que interessa ao governo a confusão, centralizando a crise no Congresso, pois a pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem dá bem a dimensão devastadora que a crise política está tendo sobre o governo Lula.
Sua avaliação positiva caiu para 35,8%, enquanto seu desempenho pessoal, que era aprovado por 59,9% em julho, desceu para 50%. Essa decadência é conseqüência, sobretudo, da percepção da maioria (54%) de que a corrupção aumentou no seu governo, e, mais que isso, de que ela é maior do que no governo anterior. Todo esse quadro aponta para inviabilizar sua candidatura à reeleição, embora a pesquisa ainda o mostre à frente de todos os seus adversários no primeiro turno.
Mas foi-se o tempo em que Lula ganhava já no primeiro turno: se a eleição fosse hoje, teria que disputar o segundo turno contra todos os seus adversários, e poderia perder para Serra. Garotinho já esteve em melhor situação: sem Serra, ele está tecnicamente empatado para o segundo turno com Alckmin e Fernando Henrique. As expectativas do eleitorado já estão divididas em relação à sua candidatura: 42,1% acham que Lula não deveria ser candidato e nem mesmo indicar alguém do PT, e para 40,3% ele deveria ser candidato.
A pesquisa revela que a tática do governo, de jogar a culpa integral no Congresso, adotada desde o início da crise, vem dando certo, embora não impeça que a imagem do presidente e de seu governo se deteriore: o PT é visto como o principal responsável pelos casos de corrupção, seguido dos senadores e deputados, e apenas 13,5% atribuem a corrupção ao presidente Lula, e menos ainda ao governo federal.
No entanto, já é quase majoritária (49,5%) a percepção de que os casos de corrupção eram do conhecimento do presidente Lula, sendo que 45,1% acham que ele não tem agido de maneira adequada diante das denúncias. O governo, açoitado pelas mais diversas acusações, perdeu a capacidade de articular uma grande negociação partidária para circunscrever a crise, tendo desperdiçado talvez a última chance nesse episódio da deposição de Severino Cavalcanti.
Entrevista:O Estado inteligente
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