Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 15, 2005

EDITORIAL DE O GLOBO Ponto final




O aparecimento do cheque do mensalinho pago ao presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, era inexorável — pelo conjunto da obra do deputado do PP pernambucano. Nada mais coerente com o perfil do líder do baixo clero do que a crônica do achaque relatada pelo empresário Sebastião Buani, concessionário do restaurante Fiorella, da Câmara, obrigado a pagar propina ao então primeiro-secretário da Casa para manter a concessão.

Severino tentou resistir. Deu negativas erráticas na semana passada, enquanto fazia uma turnê por Nova York. Na volta ao Brasil, procurou proteger-se sob o guarda-chuva do governo, tendo mantido uma conversa com Jaques Wagner antes de tentar se explicar, sem êxito, numa entrevista coletiva no domingo.

Na conversa com o ministro, Severino teria pedido apoio, com o argumento de que sem ele na Mesa da Câmara estaria aberto o caminho para o processo de impeachment de Lula. A barganha — uma chantagem — foi desmentida. Mas, coincidência ou não, o PT, até ontem pela manhã, antes de Buani apresentar o cheque, cerrava fileiras na defesa de Severino ---- o PT do Campo Majoritário, por óbvio.

O cheque de R$ 7.500 sacado em julho de 2002 por Gabriela Kênia Martins, secretária de Severino, praticamente coloca um ponto final na curta e tumultuada passagem do líder do baixo clero pelo posto de segundo homem na sucessão da República. Ontem, durante parte do dia, ele ainda tentava o improvável, manter-se no cargo. Enquanto o cheque era mostrado à imprensa, Severino se trancava em casa.

De lá saíram duas versões inverossímeis. Uma dizia ser o cheque um empréstimo que Buani teria feito à secretária. Risível. Buani garantiu não ser agiota, o que pode ser comprovado facilmente. E por que Gabriela e Severino não deram essa explicação tão logo o empresário anunciou a existência do cheque? Depois, o dinheiro deixou de ser fruto de agiotagem para se transformar em repasse para a campanha política de um filho de Severino já falecido. Sem comentários.

Seja qual for o desfecho do caso — licença, renúncia, cassação ou cada alternativa a seu tempo ---- o affaire alerta para o risco das maquinações da baixa política como a que conduziu Severino Cavalcanti à presidência da Câmara.

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