Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 16, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO APENAS O COMEÇO

A cassação do mandato do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), por 313 votos contra 156, representa uma pequena vitória da Câmara num momento em que esta se vê acossada pela mais grave crise da história recente do país. Se secundada de mais punições para outros legisladores que quebraram o decoro do cargo, pode ser o início de um salutar processo de resgate da Casa.
Roberto Jefferson decerto prestou um serviço ao país ao denunciar o amplo esquema de corrupção que estava enquistado no Palácio do Planalto e se infiltrava por toda a República. O fato de ter oferecido à nação a inestimável oportunidade de conhecer as entranhas do poder não altera, porém, os ilícitos que cometeu e que configuram, sem nenhuma dúvida, quebra de decoro parlamentar.
Foi o próprio Jefferson, em suas teatrais intervenções, quem admitiu ter recebido recursos ilegais para a campanha de 2004 e confessou ter traficado influência em estatais, em especial no Instituto de Resseguros do Brasil. Diante disso, aos deputados só restava destituí-lo de seu mandato e torná-lo inelegível por oito anos após o fim da atual legislatura.
Outras acusações que constavam da peça de Jairo Carneiro (PFL-BA), relator do caso Jefferson no Conselho de Ética da Câmara, parecem de fato menos sólidas. Mas basta que uma seja consistente para que se materializem as razões para a cassação.
É importante agora que a Câmara dê seguimento ao processo de depuração ora iniciado. É fundamental que os demais legisladores acusados de participar do chamado "mensalão" e de outros esquemas de corrupção também sejam destituídos. É vital que as investigações se aprofundem e outros eventuais parlamentares beneficiários sejam identificados e punidos. É crucial também que as apurações não se limitem ao Congresso Nacional e cheguem às fontes políticas do escândalo -o Poder Executivo- e àquelas que financiaram a corrupção.
Os legisladores precisam entender que, se fizerem menos do que isso, estarão contribuindo para desacreditar ainda mais a já tão desprestigiada instituição política brasileira.

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