FOLHA DE S PAULO
O vazamento de uma proposta do Ministério da Fazenda para uma redução expressiva das tarifas de importação provocou um pequeno terremoto entre os empresários brasileiros. O ministro Palocci, bombeiro de quatro costados, rapidamente desqualificou o documento dizendo que representava apenas uma proposta para reflexão. Mas o que se sabe é que esse é o caminho proposto pelo czar da economia e principal sustentáculo, hoje, do governo do presidente Lula.
O embaixador Rubens Barbosa nos dá a pista para entender os bastidores dessa proposta: as negociações que serão realizadas em dezembro no âmbito da OMC, conhecida como Rodada Doha. O que saiu na imprensa é, portanto, apenas a ponta do iceberg de uma queda-de-braço entre os defensores de uma liberalização unilateral de nosso comércio internacional e aqueles que recomendam uma atitude mais realista e negociada. Em outras palavras, um choque entre o chamado bom mocismo ideológico de um lado e o pragmatismo realista de outro.
Meu leitor sabe que estou alinhado com as idéias do segundo grupo. Posição consolidada ao longo dos últimos anos pela observação factual de nossa economia e do mundo que nos cerca. O Brasil é hoje um exemplo vivo dos benefícios que uma abertura comercial organizada, e com visão estratégica de longo prazo, pode trazer a uma sociedade moderna. As vantagens que essa opção, realizada de maneira clara no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, trouxeram ao Brasil falam por si só. Mesmo seus antigos críticos renderam-se a ela. Hoje não há dúvida de que o país deve buscar maior abertura e dinamismo no comércio exterior. Estamos discutindo agora não mais "o que fazer", mas sim "como fazer".
Existem algumas diferenças de fundo entre os chamados desenvolvimentistas e monetaristas em relação à abertura econômica. A mais importante delas está relacionada à dependência, ou não, do ritmo de nossa abertura às negociações com outros parceiros comerciais. Para os economistas de corte mais liberal, devemos reduzir nossas barreiras comerciais independentemente da ação de outras nações. Os benefícios intrínsecos associados a uma economia aberta justificam, por si mesmos, as distorções que ocorram nas relações com parceiros comerciais importantes. Trata-se de uma posição fundamentalista e que não leva em consideração os prejuízos eventuais de empresas que atuem em setores com maior grau de proteção, ou mesmo subsídios, em outros países.
Para eles, os feridos e mortos, como em uma guerra contra o Mal, não contam em razão da grandeza da vitória final da racionalidade das economias de mercado. Essa atitude é criticada pelo outro grupo que mostra que o processo de abertura não pode deixar de considerar as imperfeições que existem no comércio internacional de hoje. Administração da taxa de câmbio, esquemas de subsídios a produtores internos, barreiras fito-sanitárias artificiais, ao lado de barreiras e impostos formais, fazem parte das regras do jogo. Todas essas distorções estão hoje sendo debatidas e modificadas pela ação da OMC. Mas vai levar tempo e, por isso, o unilateralismo motivado por ideologia não deve ser aplicado.
Outra diferença de fundo está relacionada às condições particulares que ainda existem na economia brasileira. O exemplo mais marcante é o da taxa de juros, e seu reflexo, sobre nossa taxa de câmbio. Reduzir drasticamente nossas proteções alfandegárias em uma situação de taxa de câmbio valorizada por fatores financeiros vai expor nosso tecido produtivo a uma situação de concorrência injusta e fora do contexto da eficiência produtiva. Essa distorção não existe para o outro grupo, que se defende dizendo que, ao longo do tempo, nossos juros devem convergir para os níveis internacionais.
Lembro aqui uma frase famosa de Keynes em sua discussão com os economistas clássicos do início do século 20: "Infelizmente, a longo prazo, todos estaremos mortos".
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
setembro
(497)
- A votação mais cara do mundo Bruno Lima Rocha
- LUÍS NASSIF Efeitos dos títulos em reais
- Batendo no muro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Dirceu entre a inocência e a onipotência MARCELO C...
- ELIANE CANTANHÊDE Nova República de Alagoas
- CLÓVIS ROSSI O país do baixo clero
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO O ELEITO DE LULAL
- DORA KRAMER Agora é que são elas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Despudores à parte
- João Mellão Neto Como é duro ser democrata
- Roberto Macedo Na USP, uma greve pelas elites
- EDITORIAL DE O GLOBO Cidade partida
- MERVAL PEREIRA O gospel da reeleição
- Luiz Garcia Juiz ladrão!
- MIRIAM LEITÃO Políticas do BC
- Raça, segundo são João Jorge Bornhausen
- Cora Rónai Purgatório da beleza e do caos
- Fundos e mundos elegem Aldo
- EDITORIAL DE O GLOBO Desafios
- A Derrota Política do Governo!
- MERVAL PEREIRA Vitória do baixo clero
- MIRIAM LEITÃO Sem medidas
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Atrasado e suspeito
- DORA KRAMER Muito mais do mesmo
- LUÍS NASSIF Indicadores de saneamento
- ELIANE CANTANHÊDE Vitória das elites
- CLÓVIS ROSSI A pouca-vergonha
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO NORMA ANTINEPOTISMO
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DESVIOS SEMÂNTICOS
- Aldo vence, dá gás a Lula e esperança aos "mensale...
- JANIO DE FREITAS Dos valores aos valérios
- EDITORIAL DO JB A vitória da barganha
- AUGUSTO NUNES Berzoini foi refundado
- Se não se ganha com a globalização, política exter...
- Fome de esquerda Cristovam Buarque
- A valorização do real em questão
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO A debandada dos p...
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Precisa-se de ger...
- Ineficiência fiscal e a 'Super-Receita' Maurício M...
- DORA KRAMER Adeus às ilusões
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO OS DEPUTADOS DECIDEM
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MAIS DO MESMO
- CLÓVIS ROSSI Cenas explícitas de despudor
- FERNANDO RODRIGUES Uma Câmara submissa
- ELIO GASPARI Bicudo foi-se embora do PT
- LUÍS NASSIF A discussão do saneamento
- "Upgrade" PAULO RABELLO DE CASTRO
- EDITORIAL DE O GLOBO Gastamos mal
- EDITORIAL DE O GLOBO Chávez fracassa
- No governo Lula, um real retrocesso HÉLIO BICUDO
- MIRIAM LEITÃO Das boas
- MERVAL PEREIRA A base do mensalão
- A frase do dia
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Desculpas não bastam
- Jóia da primavera Xico Graziano
- Oportunidade perdida Rubens Barbosa
- DORA KRAMER Com aparato de azarão oficial
- LUÍS NASSIF Os caminhos do valerioduto
- JANIO DE FREITAS Esquerda, volver
- ELIANE CANTANHÊDE Todos contra um B
- CLÓVIS ROSSI A crise terminal
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO FRAUDES NO APITO
- Diferença crucial RODRIGO MAIA
- EDITORIAL DE O GLOBO Dois governos
- Arnaldo Jabor Manual didático de ‘canalhogia’
- MIRIAM LEITÃO Além do intolerável
- MERVAL PEREIRA Espírito severino
- AUGUSTO NUNES Os bandidos é que não passarão
- A crueldade dos humanistas de Lancellotti Por Rein...
- O Cavaleiro das Trevas
- Juristas Dizem Que Declarações DE DIRCEU São Graves
- O PT e a imprensa Carlos Alberto Di Franco
- A outra face de Lacerda Mauricio D. Perez
- Reinventar a nação LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
- VINICIUS TORRES FREIRE Urubus políticos e partidos
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO CHÁVEZ E A POBREZA
- AUGUSTO NUNES Os gatunos estão em casa
- MERVAL PEREIRA O fator Mangabeira
- João Ubaldo Ribeiro Mentira, mentira, mentira!
- MIRIAM LEITÃO Eles por eles
- DORA KRAMER Um perfil em auto-retrato
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Contraste auspicioso
- Gaudêncio Torquato O horizonte além da crise
- São Paulo olhando para o futuro Paulo Renato Souza
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO MOMENTO IMPORTANTE
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DÍVIDA EXTERNA EM REAL
- CLÓVIS ROSSI As duas mortes de Apolônio
- ELIANE CANTANHÊDE Malandro ou mané?
- LUÍS NASSIF A reforma perdida
- Para crescer, é preciso investir em infra-estrutur...
- FERREIRA GULLAR Alguém fala errado?
- JANIO DE FREITAS Nada de anormal
- Lula também é responsável, afirma Dirceu
- Augusto de Franco, A crise está apenas começando
- Augusto Nunes Uma noite no circo-teatro
- Baianos celebram volta de Lula a Brasília
- Lucia Hippolito Critérios para eleição de um presi...
- MERVAL PEREIRA A voz digital
- MIRIAM LEITÃO O perigo é olhar
- FERNANDO GABEIRA Notas sobre os últimos dias
-
▼
setembro
(497)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA