ELIANE CANTANHÊDE Essas elites...

FOLHA DE S PAULO

 BRASÍLIA - O mestre-de-obras Jackson Inácio da Silva, 51, está bravo com um dos seus 15 irmãos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Se meu pai fosse vivo, dava um tapa no pé da orelha dele, para ser mais vivo", declarou Jackson à repórter Mariana Campos, da Agência Folha, numa conversa em cima do telhado da casa em que está trabalhando.
"Falar que ele [o presidente] não sabia de nada é muita ingenuidade", opinou, dizendo que Lula "tem uma vida" com Zé Dirceu, Genoino, Duda Mendonça e Delúbio Soares.
Recorrendo a uma metáfora bem ao gosto do irmão presidente, comparou: "Uma namorada pode me trair um mês, mas, se ela me trair uma vida inteira, um dia eu vou saber".
Pois é. Essas elites são assim mesmo, golpistas e cínicas, sempre se aproveitando de um momento de fragilidade do governo para criticar o Lula, que é nordestino, foi retirante, operário de fábrica e de esquerda.
Só porque a turma toda era unha e carne com ele, à exceção de Duda, que entrou na história depois de longa parceria com Maluf, já ficam imaginando por aí que o presidente sabia como as coisas vinham sendo feitas.
Assim, não dá. Lula já disse que o governo, o partido e os que erraram devem pedir desculpas à nação. O PT já seguiu o conselho. Agora, o que essa elite quer mais?
Jackson quer que a nação perdoe o seu irmão. Aliás, é exatamente nisso que o Planalto e o novo "núcleo duro" do governo vêm trabalhando. Enquanto os líderes políticos se digladiam num Congresso que gira em torno de CPIs e de denúncias, Lula deve dar boas notícias, liberar verbas, anunciar obras e sair de Brasília.
Como não há base para o impeachment e ninguém quer isso, a oposição se encarrega de monitorar os sinais vitais do governo e bate na medida para lhe garantir sobrevida até o fim deste mandato. Lula está livre, portanto, para canalizar sua energia para as ruas. Ou seja: para o eleitor de 2006, que vai decidir a reeleição. Otimista, esse irmão do Jackson.