O GLOBO
Duas notícias ontem, uma boa e uma ruim, mas o mercado entendeu que as duas eram boas. A boa é que, após um ano, os juros começarão a cair. É o que indica a ata do Copom. A outra notícia é que Rogério Buratti reafirmou tudo o que dissera na promotoria, disse que não foi coagido e acrescentou novos detalhes. O mercado entendeu que ele não trouxe prova e, portanto, está tudo bem. Aproveitou a onda de alta dos emergentes ontem e comemorou.
O mercado tem sido míope desde o começo desta crise, com raríssimas exceções. Quem duvida deve olhar para as primeiras análises que foram feitas. A maioria dos analistas, nem de longe, achava que a crise tomaria a proporção que tomou. O mercado tremeu poucas vezes. Uma delas, na sexta-feira. A entrevista do ministro Palocci afastou os temores.
Mas parte da entrevista se enfraqueceu ontem. Buratti garantiu que não disse nada sob coação; que a empresa na qual trabalhou pagava propina às prefeituras das cidades em que fazia coleta de lixo. E, sobre isso, não precisou nem invocar o falecido Ralf Barquete: "Eu trabalhava lá (na Leão & Leão), vi a materialidade da coisa."
É espantosa a forma com que conta o caso da GTech na Caixa. Disse que foi procurado pela GTech para levar a oferta da propina ao PT. E admite que foi ele o procurado porque tinha condições de fazer a informação chegar. Ou seja, admite ser parte do submundo da troca de favores e dinheiro por vantagens. A maneira como fala, o que diz, a naturalidade com que trata fatos gravíssimos, tudo o incrimina. E essa pessoa, cujos antecedentes o ministro da Fazenda conhecia bem, é que priva da intimidade do chefe de gabinete do ministro e com quem Palocci mantém contatos e conversas telefônicas, ainda que para falar sobre a doença de amigo comum.
O mercado entendeu diferente. Acha que não há provas, considerou que as revelações de Buratti não eram novas e, por isso, não se preocupou com o depoimento. Além do mais, havia outra notícia: os juros devem cair a partir de setembro. Isso produziu alta na Bolsa, em comemoração ao fim do longo ciclo de aperto monetário.
Essa foi a conclusão geral a que chegou o mercado após a leitura da ata do Copom. Os juros devem cair em todo último quadrimestre do ano, mas, talvez, a queda não chegue a tempo de aumentar o ritmo da economia para o Natal. O que assombra o Copom, assombra o mundo: o preço do petróleo tem batido em níveis jamais imaginados. Ontem fechou em US$ 67,5.
A novidade nesta ata foi que, apesar da disparada do petróleo, inclusive no passado recente, o Comitê manteve em zero a perspectiva de elevação dos preços dos combustíveis. Mas o Banco Central admite que está muito mais preocupado hoje do que estava há um mês; acha que cresceram a pressão dos preços e o risco de se estabilizarem num ponto mais alto, e isso aumenta a possibilidade de que haja reajuste dos combustíveis já em 2005. De fato, o preço do petróleo é um problema sério no mundo hoje. Passou a ser uma incerteza permanente, chegando a níveis muito mais altos do que os imaginados pelos piores cenários meses atrás.
Um dos motivos do que acontece com as cotações é o descolamento entre o mercado físico, no qual os barris são transacionados, e o mercado dos papéis, o futuro de petróleo. A última "The Economist" informa que o mercado futuro aumentou, só este ano, em US$ 22 bilhões o volume de negócios fechados. O preço passou a ser cada vez mais determinado pela especulação no mercado futuro de petróleo. Recentemente, até uma alteração no Equador, que fornece apenas 1% do que é vendido no mundo, passou a ser pretexto para elevação dos preços. Tudo o que aconteça em qualquer país ou região onde haja países produtores — de problemas políticos a fenômenos climáticos — impacta o mercado, puxando os preços do produto. Normalmente, a alta dos preços levava à queda da demanda, que derrubava os preços. Hoje esse equilíbrio natural tem sido subvertido pelo consumo crescente da China.
O Banco Central alertou que as projeções do mercado para o fim do ano ainda estão acima da meta de 5,1%, mas admitiu que o quadro melhorou muito após o mês de julho. A ata lembrou que o BC, no regime de metas, olha para a frente, para a trajetória futura da inflação. Registrou que a previsão da inflação em 12 meses de março, julho e setembro está abaixo da meta. Isso pode ser sinal de que os juros já podem cair em setembro. Mas o mais forte indício de que as taxas devem cair é que, em vez de falar aquela frase de sempre, que os juros serão mantidos "por um tempo suficientemente longo", a ata registrou que o Banco Central vai "acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião para então definir os próximos passos na estratégia de política monetária implementada desde setembro de 2004".
A economia e a política se cruzam novamente elevando a incerteza. De um lado, a economia chega no bom momento da queda dos juros, que vai incentivar o ritmo de atividade. De outro, a crise na política, com seu festival de CPIs e ruídos diários, aproximou-se do ministro que tem sido a mais importante garantia da estabilidade. Insubstituível ninguém é, mas ele é fundamental num governo anêmico como o do presidente Lula.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
agosto
(563)
- Gabeira crava um marco na crônica da crise
- Editorial de O Estado de S Paulo Pizza no PT
- BLOG 31 e 30 AGOSTO
- DORA KRAMER Inconveniência continuada
- Editorial de A Folha de S Paulo ESPETÁCULO DA PARA...
- CLÓVIS ROSSI Os crimes e os "severinos"
- FERNANDO RODRIGUES A ajuda de Severino
- Aviso de gringo PAULO RABELLO DE CASTRO
- LUÍS NASSIF Um banco latino-americano
- Zuenir Ventura Prevendo o passado
- Merval Pereira Tucanos se bicam
- Miriam Leitão :Aos mais céticos
- Lucia Hippolito :Encreca na Câmara
- Villas Boas:Fraco é o golpismo
- Os escravos morais estão inquietos Por Reinaldo Az...
- FRASE DO DIA BLOG NOBLAT
- Opinião BLOG Cesar Maia
- Afinal, o PT é bom ou não é bom para a democracia?...
- Lucia Hippolito :Enquanto isso no PT...
- O que resta a Lula Por Reinaldo Azevedo
- DORA KRAMER Um olhar estrangeiro
- CLÓVIS ROSSI Saiam já daí, indecorosos
- ELIANE CANTANHÊDE Sem escapatória
- LUÍS NASSIF Os sofismas do aumento do superávit
- Greenspan é responsável por bolha imobiliária PAUL...
- JANIO DE FREITAS Cabeças não respondem
- ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO OU CASTIGO?
- Miriam Leitão :Câmbio e clima
- Luiz Garcia ‘Le cafard du président’
- Arnaldo Jabor A verdade está nua berrando na rua
- Merval Pereira Corte eleitoral
- Entrevista: Marco Maciel à ZERO HORA
- Editorial de O Estado de S Paulo Para compreender ...
- VINICIUS TORRES FREIRE O fracasso dos intelectuais
- FERNANDO RODRIGUES A falsa reforma avança
- Por que não haverá crise econômica LUIZ CARLOS BRE...
- Farra de gratificações cria salários de até R$ 40 mil
- Planalto usa cargos em fundos e estatais para prem...
- Para presidente do Conselho de Ética, "tese do men...
- Lucia Hippolito :Sem desfecho à vista
- Mario Sergio Conti O indivíduo na história: José D...
- Entrevista: Rogério Buratti "Não sou o único culpado"
- Editorial de A Folha de S Paulo CORRUPÇÃO ENRAIZADA
- Editorial de A Folha de S Paulo DELAÇÃO PREMIADA
- CLÓVIS ROSSI Omissão também é crime
- ELIANECANTANHÊDE Neo-PT
- E agora? HELIO JAGUARIBE
- Recompor os sonhos CRISTOVAM BUARQUE
- FERREIRA GULLAR Ailusão do poder
- LUÍS NASSIF Uma nova realidade nascendo
- JANIO DE FREITAS A guerra dos guarda-costas
- JOSIAS DE SOUZA Super-Receitacomeça a exibir os s...
- Lula virou um "fantasma", diz Skidmore
- DORA KRAMER De vontades e possibilidades
- Editorial de O Estado de S Paulo Lavagem de dinheiro
- A telecracia brasileiraGaudêncio Torquato
- Para superar a crisepolítica Paulo Renato Souza
- Incentivo injustificado POR Mailson daNóbrega
- Lúcia Hippolito : O sagrado direito de mudar de idéia
- JOÃO UBALDO RIBEIRO : Impressões ingênuas
- ENTREVISTA - Fernando Henrique Cardoso, ex-preside...
- Mario Sergio Conti O fim furreca do PT e o fim da ...
- Entrevista: Olavo de Carvalho : ''Não há salvador ...
- Mãos Limpas também no Brasil
- Editorial do JB Trilhas incertas-fundos de pensão
- AUGUSTO NUNES :É assim o Brasil dos desvalidos
- Miriam Leitão :Subverdades
- Zuenir Ventura Assombrações de agosto
- Merval Pereira Operação abafa
- A competição das CPIs
- Editorial de O Estado de S Paulo Paciência, paciên...
- DORA KRAMER Panorama visto do palácio
- FERNANDO GABEIRA:Um elefante morto na sala
- You are no Jack Kennedy! GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES Roteiro do caos
- Editorial de A Folha de S Paulo PALOCCI E OS MERCADOS
- Diogo Mainardi O bom de blog
- Campanha eleitoral brasileira: um cancro político
- O Planalto só tem energia para cuidar do escândalo
- Buratti confirma propina na prefeitura de Palocci
- Entrevista: Peter Lindert
- Tales Alvarenga Velhinhas de Taubaté
- André Petry Nós, o vexame mundial
- Roberto Pompeu de Toledo Huummm... Uau! Chi... Eur...
- Lula e a “renúncia” de Jango Por Reinaldo Azevedo
- Sergio Bermudes O Rei fraco
- Villas-Bôas Corrêa O amargurado adeus à reeleição
- AUGUSTO NUNES : O Brasil quer ouvir a cafetina
- Zuenir Ventura
- Miriam Leitão :Tensão e melhora
- Merval Pereira Agonia pública
- DORA KRAMER Ombro a ombro
- SOCORRO, O PROFESSOR DULCI SUMIU!
- CLÓVIS ROSSI Dar posse a Lula
- ELIANE CANTANHÊDE :O passado e o futuro
- LUÍS NASSIF CPIs e quarteladas
- O sistema de metas de inflação LUIZ CARLOS MENDONÇ...
- Lucia Hippolito:Amor bandido
- A Velhinha de Taubaté é Chico Buarque Por Reinaldo...
- Política externa: megalomania e fracasso por Jeffe...
-
▼
agosto
(563)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA