Diplomacia européia acha que impedimento de Lula desqualificaria o Brasil Até há uns meses ainda bastante firme na crença de que haveria um segundo mandato para Luiz Inácio da Silva, a comunidade de diplomatas europeus acreditados em Brasília hoje não vê o cenário com tanto otimismo, ao contrário. A hipótese da reeleição só não é considerada entre os embaixadores como algo absolutamente fora de cogitação porque eles não vêem no cenário ainda uma alternativa com rosto, voz e programa, que empolgue a sociedade brasileira. Os tucanos são vistos com alguma descrença do ponto de vista da capacidade de se organizarem internamente para escolher um candidato; sobre Anthony Garotinho há um certo sentimento de pouco caso; o PFL não é tido como opção competitiva; a esquerda não é levada a sério. Isso quer dizer, então, que os diplomatas ainda enxergam uma chance para a reeleição? Não, significa dizer que, por não compreender direito em todas as suas nuances os processos e os ritmos próprios da política brasileira, ainda mantêm a ponta dos dedos de um pé na canoa do atual presidente, mas o fazem quase por honra da firma. Numa embaixada de laços particularmente estreitos com o Brasil se ouve uma curiosa avaliação a respeito do candidato que aparece nas pesquisas como favorito frente a Lula: o prefeito de São Paulo, José Serra, seria uma "carta usada" não representando uma certeza de vitória num eleitorado que os diplomatas imaginam seja ávido de novidades. Por esse raciocínio de viés europeu, a hipótese de um impedimento do presidente da República seria um cenário muito ruim. Isso, sob um prisma ainda não analisado internamente: dizem, em tom algo jocoso, que o impeachment nas atuais condições - sem apelo originado na sociedade - significaria "uma volta do Brasil à América Latina". A frase só é uma tradução fiel do pensamento nela contido se entendida com o adendo "no mau sentido". Ou seja, a adoção no País da dinâmica de interrupções de mandatos por força da conjunção de interesses políticos sem suficiente respaldo social, denotando instabilidade institucional. Para essa análise, conta o fato de já ter havido um impeachment presidencial há 13 anos e de o Parlamento se encontrar ferido em sua legitimidade por envolvido nas mesmas denúncias que atingem o Poder Executivo. Das conversas habituais entre embaixadores, cujo teor é bastante mais livre e informal que as informações oficialmente transmitidas aos respectivos países a respeito do transcorrer da crise, apreende-se um misto de surpresa, alívio e sentido de prazo de validade no fato de a economia, em tese, não ter sido ainda atingida pela confusão política. A maior parte deles, pelo menos os que dispõem de estrutura mais organizada principalmente de pesquisa e contatos internos, acha que do ponto de vista da economia real, não do marcado financeiro, não há como não haver contaminação. Apontam, como indicativo, a paralisia geral nos negócios e no andamento de trâmites de projetos oficiais. Os diplomatas não acreditam na capacidade de recuperação política do presidente a ponto de concorrer à reeleição com chance de vitória porque não vêem nas atitudes do governo sinais de defesa convincente ou demonstrações de vigor político. A entrevista do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, foi bem recebida pelos estrangeiros, mas digamos que numa versão menos entusiasmada que a recepção dada à fala do ministro pelos nacionais. Estes - imprensa, políticos, empresários - somos vistos como franca e deliberadamente interessados em manter uma rede tácita de proteção em torno do ministro da Fazenda. Acham que até a CPI dos Bingos na semana passada tratou Rogério Buratti com cavalheirismo extremo pela natureza das acusações anteriormente feitas ao Ministério Público e repetidas naquele momento ali. Seria o "efeito Palocci" pelo qual, preservando o ministro da Fazenda, o País buscasse também a autoproteção. Sobre o futuro, nossos amigos embaixadores não têm tido condições de enviar a seus países análises com margem de erro estreita. Digamos que nem se arriscam para não incorrer no erro, eles que há quatro, cinco meses, não faziam avaliações muito positivas sobre o desempenho do governo, mas não acreditavam em quem lhes expusesse o projeto da reeleição como possibilidade remota. Preferiam crer nas pesquisas de popularidade. Hoje baseiam a convicção de que tal hipótese pertence ao terreno das improbabilidades fortes, em alguns fatores além da já citada incapacidade de reação. Não vêem o governo de posse de um discurso atraente para o eleitorado, assim como não enxergam quais partidos poderiam fornecer sustentação a uma candidatura de Lula. Mesmo assim, ainda há uma tentativa de fazer um exercício hipotético de um segundo mandato. A simulação revela um cenário ainda mais desanimador. Pelo seguinte: com o PT caindo pelas tabelas, os outros partidos da base quase igualmente desmoralizados e o PMDB preso das próprias incongruências, os diplomatas perguntam-se que segundo mandado, afinal de contas, seria esse.
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terça-feira, agosto 30, 2005
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