Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 25, 2005

CLÓVIS ROSSI Café-com-leite

FOLHA DE S PAULO

  SÃO PAULO - Quando eu era garoto (faz tanto tempo que nem tenho certeza de ter sido garoto um dia), a gente chamava de "café-com-leite" os meninos que, por falta de força, destreza ou tamanho, não tinham condições de competir em determinadas brincadeiras ou jogos de rua (sim, brincava-se na rua mesmo na São Paulo daquele século).
Na pelada, por exemplo, era eticamente proibido, além de desnecessário, tirar a bola dos café-com-leite, porque eles as perderiam de qualquer maneira depois de dois ou três passos cambaleantes.
Pois não é que o presidente Lula está sendo tratado por seus amigos, correligionários e aliados como café-com-leite? Ele nunca viu, nunca fez, nunca participou, nunca endossou, nunca se beneficiou de nada, nadica, do turbilhão de maracutaias que desfila pelo Congresso e pela mídia, dia sim, outro também.
Aí, o jogo fica assim: a luminosa caminhada do PT do nada ao poder federal é mérito, principalmente, de Luiz Inácio Lula da Silva, do qual sempre se diz que é maior que o PT. Portanto, puxou-o para cima.
Já a tragédia do PT, como os próprios líderes petistas a chamam, é culpa dos "inominados". No máximo, de Delúbio Soares, que poderia ser perfeitamente o tesoureiro das Organizações Tabajara (a do "Casseta e Planeta"), mas jamais poderia ser o grande cérebro por trás do assalto aos trens pagadores.
Quer dizer: a Lula é dado o direito de conjugar o verbo ganhar como "eu ganho, nós empatamos, eles perdem". Assim qualquer um vira campeão do mundo de qualquer coisa.
Por uma mera questão de lógica, e também por um mínimo de honestidade, vamos combinar o seguinte: se é para tratar Lula como café-com-leite nas maracutaias, então ele é café-com-leite também na administração da pátria.
E, se o é ou foi, quem é que tocou a lojinha até agora e, pior, quem vai tocá-la nesses 16 meses que restam até o fim da brincadeira?

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