Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 19, 2005

Olhando para o futuro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE S PAULO

A crise política que estamos vivendo, com o lançamento antecipado da campanha eleitoral do próximo ano, leva o analista a voltar seu olhar para o futuro. Começamos antecipadamente o debate sobre as principais diretrizes que devem marcar o próximo mandato presidencial. Apesar das incertezas que devem fazer parte de nosso dia-a-dia até meados do próximo ano, não pode o analista fugir da responsabilidade de trazer à opinião publica um cenário básico que sirva como referência para sua orientação.
Deixo, portanto, de lado meus comentários sobre a decisão do Copom de manter a taxa Selic em 19,75% e começo a refletir sobre o próximo presidente da República. Inicio este meu pensar tomando como referência um estudo preparado pelo National Intelligence Council, órgão de assessoria do governo americano. Chama-se "Mapping the Global Future" e procura apresentar um cenário para a economia mundial no ainda longínquo ano de 2020. Sua construção não foi obra de tecnocratas do governo americano, mas sim da compilação de estudos realizados por universidades e empresas privadas sediadas em vários países do mundo.
Gostaria de trazer a meu leitor algumas das conclusões desse trabalho e que dizem respeito ao Brasil. A mais importante delas é a que ele aponta nossa economia como uma das mais dinâmicas e de maior peso neste ainda longínquo futuro. As grandes estrelas serão a China e a Índia, mas o Brasil, a Indonésia e a África do Sul também fazem parte do que no relatório é chamado de "new global players". Na América Latina, estaremos muito à frente do México e da Argentina, o que leva o relatório a especular sobre uma possível crise provocada por essa liderança brasileira tão marcante.
Outro ponto importante do relatório trata do aprofundamento do processo de globalização da economia. O desenvolvimento tecnológico continuará a ser a principal força por trás da integração crescente das economias nacionais. Por outro lado, deveremos ter uma mudança do eixo central da economia mundial para o Pacífico, deixando para trás o Atlântico como principal região econômica do globo. Essa mudança leva o relatório a falar em um "Asian face" no processo de globalização e uma redução da influência do Ocidente.
O que seria essa face asiática do processo de integração e quais as implicações mais importantes dessa mudança? Aqui temos um dos pontos centrais do relatório e que merece uma reflexão profunda da parte de nós brasileiros. Se estudiosos de várias partes do mundo acreditam que nosso país pode galgar posições importantes no cenário internacional, será necessário que conheçamos bem essas novas regras do jogo.
Nesse aspecto é que as eleições do próximo ano serão um momento crucial para nosso futuro. O novo presidente da República precisa assumir seu mandato com uma estratégia que possa tornar real esse cenário que faz parte do planejamento estratégico do governo americano. Uma coisa me parece certa: essa face asiática da economia mundial passa por uma mudança profunda na gestão da política econômica do novo governo. O liberalismo estremado, que tem caracterizado as políticas econômicas dos últimos anos, terá que ser substituído por uma gestão mais próxima da dos grandes ganhadores dessa corrida mundial e que são os países asiáticos.
Isso implica uma participação mais ativa do governo nas definições de natureza estratégica e na superação dos obstáculos que ainda separam a economia brasileira do cenário construído no relatório do NIC. Para que sejamos um dos "new global players", será necessário entender as regras desse novo espaço econômico global e adaptar a economia de nosso país para as novas exigências. Para isso, devemos começar discutindo e refletindo sobre as hipóteses e teses do estudo citado. Com isso, estaremos construindo um cenário, passo inicial para a definição da ação política e administrativa do novo governo. A repetição do que tem sido feito desde a implantação do chamado Plano Real me parece um caminho para uma nova frustração brasileira. Volto ao assunto.

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