Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 25, 2005

AUGUSTO NUNES O sereno dia-a-dia da turma de Dirceu

JB


Depois de examinar os depoimentos colhidos pelas CPIs do Congresso, e de confrontar o conteúdo de cada oitiva, o colunista apresenta aos leitores o primeiro relatório parcial sobre a crise no Pântano do Planalto. O documento trata exclusivamente do cotidiano da Casa Civil no governo Lula:

"Com base no que foi dito pelos depoentes, cujas declarações consumiram, somadas, 277 horas, conclui-se que o primeiro mandamento da Casa Civil pode ser resumido em quatro palavras: 'agir com absoluta discrição'. Examinemos, separadamente, o comportamento dos principais investigados:

1. WALDOMIRO DINIZ. Entre janeiro de 2003 e março de 2004, foi assessor especial para assuntos políticos do chefe da Casa Civil, o agora deputado federal José Dirceu. Deixou o cargo depois de divulgada a fita que o mostra tentando extorquir dinheiro do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O depoente admite que, no momento das filmagens, era um pecador no comando da loteria do Rio. Regenerou-se ao ser nomeado por Dirceu, de quem era amigo desde 1991, quando dividiram um apartamento em Brasília. Nega as evidências de que, já instalado no Planalto, negociou propinas com exploradores de bingos. Passava quase o dia inteiro no Congresso. Conseguiu a conversão de parlamentares inicialmente refratários a propostas do governo sem distribuir mensalões. Não conversava com o chefe sobre as incursões diárias ao Legislativo. Muito menos com os companheiros de trabalho na Casa Civil.

2. MARCELO SERENO. Assessor especial da Casa Civil até a queda do chefe, limitou-se a administrar o tráfego de pedidos, indicações e promessas. Não tinha poder de decisão. Apenas encaminhava aos canais competentes papéis avalizados por Dirceu (eventualmente, retransmitia reivindicações orais). Não tratava de assuntos profissionais com os demais inquilinos do latifúndio no 4º andar do Planalto. Muito menos com Waldomiro, que conheceu só de vista.

3. JOSÉ DIRCEU. Como os assessores não lhe contavam nada, também nada contava aos assessores. Nem tinha tanto a contar quanto se pensa. Nunca ouviu alguém falar em mensalão. Não comercializou nomeações. Episodicamente, fazia ao presidente uma ou outra sugestão, nenhuma delas relevante. Ajudou a consumar acordos com partidos que formariam a 'base aliada', mas todos resultaram de afinidades políticas e/ou ideológicas. Depois do 'incidente' protagonizado por Waldomiro Diniz, transferiu para Aldo Rebelo a agenda de entendimentos com parlamentares. Concentrou-se na condução de dezenas de grupos de trabalho interministeriais. Falava muito com o presidente Lula, quase sempre sobre amenidades. Nunca trataram de casos de corrupção. Acredita que ambos foram diariamente traídos pelo silêncio de companheiros bem informados.

Aos inquilinos da Casa Civil, devemos acrescentar dois freqüentadores assíduos.

1. DELÚBIO SOARES. Aparecia por lá regularmente, mas o Delúbio tesoureiro do PT (e parceiro de Marcos Valério) ficava na portaria. Quem entrava era o amigo Delúbio, decidido a não conversar sobre coisas sérias com velhos companheiros. Falou com Dirceu duas ou três vezes. Talvez quatro. O chefe perguntava pelas crianças, Delúbio informava que passaria o réveillon com Marta Suplicy e Luís Favre. Jamais conversaram sobre mensalão, neologismo que só conheceram pelos jornais.

2. SILVIO PEREIRA. Usou a sala de reuniões da Casa Civil para numerosos encontros. Não se lembra dos assuntos tratados. Nem dos presentes. Nem de ter feito reuniões. E nunca visitava Dirceu.

Apresentadas as conclusões, segue-se o parecer: o relator recomenda cadeia para todos. Por vadiagem."

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