Sinais de alerta
A pesquisa do Ibope divulgada na terça-feira pela TV Globo tem um dado alarmante para a classe política, e que pode fazê-la pensar duas vezes quando surgirem tentativas de acordos espúrios nesses tempos de crise, como anda acontecendo neste exato momento em Brasília, conforme revelou ontem o blog do Moreno: a percepção da maior parte dos entrevistados é de que a culpa pela situação atual é dos políticos, nas diversas maneiras em que eles se apresentam: 29% acham que o PT é o maior responsável; 28% culpam genericamente os deputados federais; 19% responsabilizam os partidos aliados , PL, PP e PTB, e 16% culpam o sistema político eleitoral.
O fato de o mais identificado com a crise ser o PT mostra que a percepção popular está no caminho certo, faltando apenas ligar causa a conseqüência, isto é, ligar a atuação da direção partidária à ação do governo. De certa forma, o governo e o PT estão ajudando a explicitar essa ligação nessa crise da formação da nova chapa do diretório nacional do PT. O Palácio do Planalto, que já havia feito uma intervenção direta no partido, colocando três ministros na direção provisória, agora trata de fazer a intermediação entre o grupo do ex-ministro José Dirceu e o possível candidato a presidente do partido, Tarso Genro.
Ontem, o próprio presidente Lula interveio explicitamente na disputa, chamando ao Palácio do Planalto Tarso Genro. Os dois já estavam em ação conjunta para tirar José Dirceu da chapa e sinalizar uma renovação no partido. Com a reação de Dirceu, que se recusa a ser prejulgado por seu partido antes mesmo que a Câmara defina seu destino político, Lula tenta convencer Tarso a aceitá-lo na chapa, na expectativa de que venha a ser cassado, o que o impediria de continuar na direção partidária. Manobra de uma crueza política tão grande que pode desencadear reações imprevisíveis de Dirceu.
Apenas 22% identificam o presidente Lula como o verdadeiro responsável pela crise, embora a aprovação de seu governo, e a sua própria, estejam em declínio que parece irreversível. A aprovação ao governo Lula baixou nada menos que 10 pontos percentuais em três meses, para 45% em agosto; o grau de desaprovação subiu outros 9 pontos percentuais, de 38% em junho para 47% agora.
A avaliação do governo mudou completamente: só 29% dos pesquisados o consideraram ótimo ou bom. Em junho, 22% consideravam o governo ruim ou péssimo, hoje já são 31% os que têm visão negativa. A confiança no presidente também apresentou declínio em agosto: agora em agosto, apenas 43% confiam nele, enquanto a maioria, 52%, já não lhe dá um voto de confiança.
O índice de conhecimento das denúncias de corrupção subiu de 72% no mês passado para 81% hoje, o que indica que à medida em que as pessoas vão tomando conhecimento do que está acontecendo, vão perdendo a confiança no governo e alterando negativamente sua avaliação. Embora perca apenas para o prefeito de São Paulo, José Serra, já agora no primeiro turno, as pesquisas de tracking , que acompanham a evolução da tendência do eleitorado, ao contrário das pesquisas face a face, que são um retrato do momento, já apontam para uma deterioração da imagem do presidente que o colocaria em desvantagem contra outros dois candidatos tucanos, Fernando Henrique e Geraldo Alckmin
No momento, no entanto, o prefeito Serra contabiliza os efeitos do recall da campanha presidencial em que foi derrotado por Lula em 2002. Se não se confirmarem as previsões de que Lula continuará perdendo apoio, Serra passará a ser o candidato natural do PSDB, posição que hoje pertence ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por diversas razões, sendo a primeira o fato que o próprio Serra admite que é difícil para ele deixar a prefeitura com pouco mais de um ano de mandato.
Se, no entanto, Lula conseguir superar a crise política que hoje parece maior do que seu governo e se recandidatar, e Serra continuar o único capaz de vencê-lo, a missão seria compreendida pelos eleitores tucanos, que o liberariam simbolicamente do compromisso que assumiu por escrito. Por outro lado, se Alckmin também se apresentar competitivo, teria a preferência de boa parte do partido, representada pelo senador Tasso Jereissati e o governador de Minas, Aécio Neves, que já aceita Serra com mais tranqüilidade, mas prefere Alckmin.
Não apenas porque ele é um líder mais palatável, mas porque vêem nele a representação do novo PSDB, que não chamaria muitas críticas na campanha eleitoral para o passado, podendo explorar mais as perspectivas futuras. Estar ligado às antigas gestões tucanas de Fernando Henrique seria um ponto fraco de Serra, embora ele tenha tido sempre uma posição crítica em relação a aspectos da política econômica.
Nesses tempos de especulação, há quem veja também na possibilidade de o candidato do PT poder vir a ser o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, uma anulação potencial das qualidades da candidatura de Alckmin. Isso porque Palocci, salvando-se das acusações de seu ex-assessor Rogério Buratti, representaria o mesmo equilíbrio na política econômica, e a mesma firmeza gerencial com que Alckmin tenta erguer sua candidatura. Nessa avaliação, Alckmin poderia vir a ser um bom candidato de contraponto ao presidente Lula, mas perderia força diante de Palocci.
Já o prefeito de São Paulo, José Serra, poderia representar um contraponto à política econômica num embate contra Palocci, o que só reforçaria os paradoxos que permeiam nossa crise política: uma campanha presidencial em que o candidato do PT defenderia uma política econômica ortodoxa, e o candidato do PSDB se apresentaria como a alternativa viável de uma política econômica desenvolvimentista sem ser irresponsável fiscalmente.
Entrevista:O Estado inteligente
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