O GLOBO
O mercado financeiro, que ameaçou um início de colapso na semana passada, quando o advogado Rogério Buratti acusou, em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de ter recebido, quando prefeito de Ribeirão Preto, um mensalão de R$ 50 mil por contratos de lixo da empresa Leão & Leão, que repassava ao diretório nacional do PT através do mesmo Delúbio Soares, ontem fechou em tranqüilidade diante da reafirmação das denúncias feitas na CPI dos Bingos.
Da mesma maneira que anteriormente, Buratti não apresentou provas, o que desta vez pareceu aos operadores do mercado motivo suficiente para se tranqüilizarem. É mais uma prova de que o mercado financeiro não entende nada de política, ou finge que não entende para melhor atender a seus interesses. A oposição está convencida de que o depoimento de Buratti tem elementos suficientes para mostrar como o esquema de financiamento ilegal do PT através de dinheiro público já existia há muito tempo, e que o ministro Palocci, hoje praticamente o único sustentáculo do governo, fazia parte dele, como petista de alta estirpe que sempre foi.
O raciocínio de que a única prova de que Buratti dispõe é a palavra de um morto — Ralf Barquete, ex-secretário da Fazenda na Prefeitura de Ribeirão Preto — só desqualifica a denúncia enquanto não surgirem as provas documentais, que o Ministério Público paulista diz que já tem. O próprio Buratti disse em seu depoimento que o pagamento da propina é facilmente comprovável nos documentos da Leão & Leão, e, como quem não quer nada, disse que podia testemunhar dos dois lados da questão, pois trabalhou na prefeitura e depois na própria Leão & e Leão.
Não há, portanto, qualquer motivo para tranqüilidade, pois tudo indica que as investigações levarão ao completo esclarecimento do esquema de corrupção que abrangia — ou abrange — as prefeituras do interior paulista de maneira geral, e as do PT de modo especial, nos serviços das cidades, seja do lixo, seja dos transportes coletivos.
Um aspecto em especial do depoimento de Rogério Buratti merece uma análise mais acurada. Ele voltou a desmentir que tenha pedido uma comissão para intermediar a renovação de um contrato da Gtech com a Caixa Econômica Federal para fornecimento de equipamentos para casas lotéricas. Explicou que "apenas transmitiu uma proposta" ao Ministério da Fazenda, a pedido do mesmo Ralf Barquete, que a esta altura, início do governo Lula, trabalhava na Caixa.
E qual era a proposta? De acordo com Buratti, a Gtech oferecia de R$ 500 mil a R$ 16 milhões, "dependendo do prazo e do desconto obtido", para o PT, em troca de uma renovação favorável do contrato. Buratti, a pedido de Barquete, teria sido o intermediário da proposta através do chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado. No dia seguinte, recebeu a resposta, que ele imagina tenha sido mandada pelo próprio ministro: a licitação seria feita dentro das normas legais, sem favorecimentos.
Esse episódio é repetido pelos governistas como uma prova definitiva de que o ministro Palocci não aceitou proposta de corrupção. Na verdade, é um episódio exemplar do ambiente de amoralidade que se instalou no governo logo no início da administração. E também mostra como o senso de ética está completamente distorcido no país.
O assessor da Caixa e ex-secretário da Fazenda Ralf Barquete pede que Buratti intermedeie a operação. O advogado Buratti conta, sem revelar nenhum traço de estranheza, que se dispôs a ser intermediário de uma proposta de corrupção feita diretamente ao ministro da Fazenda. O chefe de gabinete, Juscelino Dourado, em vez de no mínimo passar uma descompostura em seu amigo, transmite a proposta indecente a ninguém menos que seu chefe imediato e ministro da Fazenda do país.
Que também não demite seu chefe de gabinete, que teve a petulância de lhe propor tal tipo de negociata, nem manda prender Rogério Buratti, nem interrompe a licitação. A empresa que fez a proposta, e que alega que, ao contrário, foi chantageada por Buratti, continua a atuar normalmente na Caixa Econômica Federal e envolve-se mais adiante com Waldomiro Diniz, outro assessor de outro ministro poderoso, o então chefe da Casa Civil, José Dirceu.
O passado do ministro Palocci pode ser comprometedor em sua gestão em Ribeirão Preto, dentro do esquema montado pelo PT para financiar-se. Mas o presente, à frente do Ministério da Fazenda, deveria estar livre dessas situações comprometedoras. É evidente que houve no mínimo um afrouxamento dos valores morais entre seus principais assessores, todos amigos entre si, uns padrinhos de outros, para que um episódio como esse tenha seguido adiante. No mínimo, sentiram-se em condições de propor ao "patrão", como Buratti o qualificou na depoimento de ontem, negócios escusos que deveriam ser rejeitados liminarmente. A não ser que a prática anterior fosse essa, como tudo indica.
É inacreditável o que vai sendo revelado nos diversos depoimentos dessas CPIs todas. Mesmo que muitos interrogatórios sejam infrutíferos, mesmo que muitos parlamentares sejam apenas espalhafatosos ou eleitoreiros em busca das câmeras de televisão, o fato é que um painel estarrecedor e detalhado está sendo desenhado nesses depoimentos, mostrando como uma verdadeira máquina paralela de arrecadar dinheiro foi montada no serviço público pelo PT e seus aliados que, a exemplo de PC Farias no tempo de Collor, dominaram as técnicas que já existiam e quiseram monopolizar a arrecadação do dinheiro público.
Se é verdade que todos os partidos políticos adotam as mesmas estratégias, como o PT insiste em apontar para se defender, é forçoso reconhecer que eles superaram os mestres, aperfeiçoando os esquemas de corrupção no país.
Entrevista:O Estado inteligente
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