O ESTADO DE S PAULO A crise 'chegou' ao presidente e tão cedo nem tão facilmente de lá sairá
Pronto, se era por falta de atestado popular, o Palácio do Planalto - é injusto atribuir o monopólio do equívoco ao presidente Luiz Inácio da Silva - pode tratar de dar aos fatos sua real dimensão, pois a última pesquisa do Ibope forneceu o dado que faltava: a maioria da população já identifica Lula com a crise. E responsabiliza, nesta ordem, o PT (29%), os deputados de um modo geral (28%), o presidente da República (22%), os partidos aliados (19%). O sistema político-eleitoral, bode expiatório predileto de análises diversionistas, aparece com 16% das preferências. A oposição e os possíveis candidatos à Presidência em 2006 aparecem, respectivamente, com 9% e 6% das escolhas relativas aos responsáveis pelo escândalo em curso. Chama atenção na pesquisa não a queda na avaliação positiva do governo em relação às duas outras consultas feitas já no transcurso da crise; isso era só questão de tempo. O que surpreende é a velocidade do despencar. Seja no tocante à confiança na figura do presidente, na avaliação do governo ou na percepção de Lula como governante, em todos os critérios a queda média observada nos últimos 30 dias foi de 10 pontos porcentuais. É muito coisa para um mês e indica um caminho sem volta. Inclusive porque está embutida na pesquisa não apenas a rejeição das pessoas aos aspectos criminosos das denúncias em si, mas também a crítica à maneira de o presidente, o governo e o PT lidarem com a crise: com agressividade no início, negativas veementes, e falsas em seguida, evasivas logo depois, e durante todo o tempo a ambigüidade entre os discursos favoráveis às investigações e as ações postergatórias e derrogatórias no governo, no Parlamento e no partido. Como não souberam lidar com a adversidade, os petistas tampouco saberão administrar a volta por cima conforme, aliás, demonstra a guerra de extermínio instalada no PT em torno da eleição da nova direção executiva. Daí a improbabilidade de, daqui em diante, se conseguir uma inversão na tendência registrada pelo último Ibope. A mesma firmeza já não se pode atribuir aos dados eleitorais revelados pela pesquisa. Eles combinam com a avaliação negativa e apontam para a existência de um candidato capaz de derrotar o presidente Luiz Inácio já no primeiro turno, o prefeito de São Paulo, José Serra, mas não são tão perenes quanto. O que pensa o cidadão hoje, não necessariamente é o que fará o eleitor amanhã. A opção pelo nome de Serra na pesquisa pode ser uma forma de as pessoas protestarem contra o governo, dizendo que em 2002 fizeram a escolha errada. Nem de longe isso quer dizer que recairá sobre o oponente de Lula há três anos a predileção do eleitorado em 2006, quatro anos depois. Aos tucanos seria aconselhável comer muito arroz com feijão se quiserem, e querem, mesmo voltar. Gosto de festa Com tantas questões a esclarecer, teria sido patética, não tivesse sido tola, a insistência de parlamentares da CPI dos Correios em obter do genro de Roberto Jefferson, Marcos Vinícius Vasconcelos, a origem do apelido de "Nescau" que o moço ganhou no colégio militar. Queriam estabelecer uma conexão entre o apelido e as tenebrosas transações do petebista em empresas estatais. Tom menor A recusa, alegadamente por motivos médicos, de Rogério Buratti em atender à reconvocação da CPI dos Bingos não faz bem à credibilidade da versão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tão bem apresentada na entrevista de domingo último. Trevas A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de proibir emissoras de rádio e televisão de assumir posições ou divulgar opiniões e juízos de valores a respeito do referendo à proibição da venda de armas, a se realizar em 23 de outubro próximo, fere a liberdade de expressão, indo, portanto de encontro à Constituição. Mas a sentença do TSE está em consonância com a posição da Justiça Eleitoral sobre as restrições igualmente impostas aos meios eletrônicos durante campanhas eleitorais. Sob o argumento de que são concessões públicas, a Justiça entende que as emissoras devem ser limitadas em seu direito e dever de bem informar, o que inclui o exercício da opinião, da análise e da interpretação. Nos dois casos, no referendo e em eleições, o tribunal decide pela ótica do retrovisor. O fato de se tratarem de concessões públicas por mais razão ainda as obrigaria a cumprir o preceito constitucional do livre-pensar, falar e divulgar. Ponto O presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, ganhou a parada com a direção do PMDB. Há oito dias, a cúpula queria obrigá-lo a se decidir pela candidatura à Presidência da República até dezembro. Ontem dobrou-se à conveniência de Jobim, marcando para março o prazo final para inscrição nas prévias.
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quinta-feira, agosto 25, 2005
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