FOLHA DE S PAULO
A maior parte do que Alan Greenspan disse na conferência em sua homenagem na semana passada fez muito sentido. Mas suas sábias palavras chegam tarde demais. Ele é como o homem que sugere que se deixe aberta a porta do celeiro e mais tarde -depois que o cavalo foge- faz uma palestra sobre a importância de manter os animais adequadamente presos.
O leitor habitual sabe que nunca perdoei o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) por seu papel na criação do atual déficit orçamentário. Em 2001, Greenspan, que foi um rígido mestre de tarefas fiscais na época de Clinton, deu um apoio decisivo aos cortes de impostos irresponsáveis do governo Bush, ao pedir que o Congresso reduzisse a receita do governo federal para que não pudesse saldar sua dívida depressa demais.
Desde então a dívida federal cresceu. Mas, até onde posso ver, Greenspan nunca admitiu que tenha dado um mau conselho ao Congresso. No entanto, o presidente do Fed voltou a nos falar sobre os males dos déficits.
Agora, parece que está fazendo um jogo semelhante em relação à bolha imobiliária.
Na conferência, Greenspan não disse em inglês claro que os preços dos imóveis estão exagerados. Mas ele nunca diz as coisas em inglês claro. O que ele disse, depois de enfatizar a recente importância econômica do aumento dos preços da habitação, foi que ele é "em parte o resultado indireto de os investidores aceitarem uma compensação menor pelos riscos. Esse aumento no valor é muitas vezes visto pelos participantes do mercado como estrutural e permanente". E ele advertiu que "a história não foi benigna com as conseqüências de períodos prolongados de prêmios de baixo risco". Acredito que isso signifique "cuidado com o estouro da bolha".
Em outubro último, Greenspan rejeitou as alegações sobre uma bolha imobiliária: "Enquanto as economias locais podem experimentar desequilíbrios de preços especulativos significativos, uma severa distorção de preços nacional parece muito improvável".
Espere, a coisa piora. Hoje em dia, Greenspan manifesta preocupação sobre os riscos financeiros criados pela "prevalência de empréstimos somente a juros e a introdução de formas mais exóticas de financiamentos com taxas ajustáveis". Mas, no ano passado, ele incentivou as famílias a assumir riscos muito sérios, ao defender as vantagens dos financiamentos com taxas ajustáveis e declarar que "os consumidores americanos poderão se beneficiar se os credores oferecerem maiores alternativas de produtos de financiamento ao tradicional financiamento de taxa fixa".
Se Greenspan tivesse dito dois anos atrás o que está dizendo hoje, as pessoas poderiam ter emprestado menos e comprado de maneira mais sábia. Mas ele não o fez, e agora é tarde demais. Há sinais de que o mercado habitacional chegou ao pico ou chegará em breve. E caberá ao sucessor de Greenspan administrar as conseqüências da bolha.
Dinheiro da China
Quão ruins serão essas conseqüências? A economia americana sofre atualmente desequilíbrios gêmeos. De um lado, os gastos domésticos estão inchados pela bolha da habitação, o que levou a um enorme surto de construções e altos gastos do consumidor, conforme as pessoas levantam capital usando suas residências como garantia. Do outro lado, temos um enorme déficit comercial, que cobrimos vendendo títulos para estrangeiros. Como eu gosto de dizer, hoje os americanos ganham a vida vendendo casas uns aos outros, pagas com dinheiro emprestado da China.
De uma maneira ou de outra, a economia acabará eliminando ambos os desequilíbrios. Mas, se o processo não transcorrer suavemente -se, em particular, a bolha habitacional estourar antes de o déficit comercial encolher-, teremos uma desaceleração econômica e possivelmente uma recessão. De fato, um número crescente de economistas usa essa palavra para 2006.
E é aqui que Greenspan continua dizendo tolices. Em seus comentários finais, ele sugeriu que "o fim do "boom" habitacional poderia induzir um aumento significativo do índice de poupança pessoal, um declínio das importações e uma correspondente melhora do déficit de conta corrente". Tradução (eu acho): o fim da bolha habitacional vai automaticamente curar o déficit comercial.
Desculpe, mas não. Uma desaceleração da habitação causará a perda de muitos empregos nas indústrias de construção e serviços, mas não terá grande efeito direto sobre o déficit comercial. Então esses empregos não serão substituídos por novos empregos em outro setor, a não ser que alguma outra coisa, como uma queda no valor do dólar, torne os produtos americanos mais competitivos, levando a mais exportações e menos importações.
Assim, a economia dos EUA terá um duro caminho pela frente. E a culpa é em parte de Greenspan.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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