Editorial de A Folha de S Paulo PT SEM RUMO

A declaração do presidente interino do PT, Tarso Genro, em sabatina promovida por esta Folha na última terça, é reveladora do impasse que paralisa o partido. Instado a responder sobre os motivos que justificariam o voto no PT em 2006, Genro afirmou que, enquanto a sigla não for reformulada, não há argumentos a apresentar.
Desde que as denúncias de corrupção se intensificaram, a legenda se vê diante de uma crise de hegemonia. O Campo Majoritário, chapa que assumiu o controle do PT nos últimos anos, tem sofrido reveses sucessivos. Apesar disso, são escassas as forças aglutinadoras dentro do partido capazes de impor uma alternativa.
Por ora, as saídas apontam para duas direções. A primeira é a ruptura com o atual quadro político-administrativo da legenda. Crítico severo da ortodoxia econômica implementada pelo ministro Antônio Palocci -cuja candidatura à Presidência afirmou que não apoiaria-, Tarso Genro tem defendido essa via. Ao lado do senador Aloizio Mercadante, Genro procura transformar o Campo Majoritário numa chapa à esquerda do governo, mas moderada o suficiente para não se confundir com a ala mais radical do petismo.
Essa alternativa esbarra, obviamente, na figura de José Dirceu. Apesar da pressão interna e de articulações do presidente Lula, o ex-ministro afirmou que não sairá da chapa, pois isso o enfraqueceria diante do processo de cassação que enfrenta na Câmara. Nos seus próprios termos, tratar-se-ia de um suicídio político.
Caso Dirceu permaneça, Genro ameaça não disputar a presidência do PT, e a solução seria um rearranjo em torno de nomes como o ministro Luiz Dulci ou o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia, cujas plataformas ainda não se fizeram conhecer.
Profundamente abalado, o melhor para o partido seria assumir os erros, afastar os responsáveis e demonstrar que uma nova mentalidade poderá emergir depois da crise. Do contrário, continuará um grande desafio encontrar argumentos que justifiquem o voto no PT.