Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 27, 2005

Editorial de A Folha de S Paulo PALOCCI E OS MERCADOS

 Não é a consulta ao comportamento do índice Bovespa ou da taxa de câmbio que irá determinar se as explicações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, devem ser aceitas como definitivas. É irrelevante para a avaliação do caso se os mercados se deram por satisfeitos com as declarações do ministro e consideraram sem impacto o depoimento prestado por seu ex-assessor Rogério Buratti à CPI dos Bingos.
O fato é que Buratti sustentou o que dissera ao Ministério Público: a empresa Leão Leão, da qual era vice-presidente, pagava uma "caixinha" de R$ 50 mil mensais à prefeitura de Ribeirão Preto para reforçar as finanças do PT. E o então prefeito Palocci conheceria o esquema.
Mais do que isso, Buratti disse ter transmitido ao chefe de gabinete do ministério da Fazenda uma proposta da empresa Gtech, que oferecia pagamento por uma renovação de contrato com a Caixa Econômica Federal. Tamanha desenvoltura leva a crer que o intermediário via chances de o ministro aceitar algo desse gênero -ou ao menos considerava possível abordá-lo sem temer reações drásticas. Palocci recusou a oferta, mas, ao que se sabe, nada fez contra os que teriam tentado corrompê-lo.
Ainda segundo o depoente, uma doação de R$ 2 milhões de empresas de jogos para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolveria um acordo eleitoral. Tratava-se de regulamentar os jogos e renovar o contrato da Gtech com a Caixa.
Também não se podem ignorar os telefonemas de Buratti para Palocci e o fato de o ministro não ter feito referência a oito contratos assinados pela prefeitura com a Leão Leão.
São conhecidas as notícias sobre esquemas de captação irregular de recursos por parte de prefeituras sob comando do PT -e o escândalo da cidade paulista de Santo André é a mais estridente delas. Quanto a Ribeirão Preto, o Ministério Público e o próprio Buratti afirmam haver elementos para provar que houve contribuição da empresa. Palocci, como Lula, alega nada saber. Mas não basta a paz dos mercados para oferecer garantias quanto a isso. É preciso que as investigações prossigam.

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