NO MÍNIMO
Como o dorminhoco que acorda tarde, chega atrasado no trabalho e
inventa desculpas esfarrapadas, o governo ressonou durante dois anos e sete meses de mais de metade do mandato do presidente Lula e despertou assustado com o incêndio das CPIs ameaçando alastrar-se até o Palácio do Planalto.
Embaraçado pela inexperiência administrativa, sem saber por onde começar a arrumar a casa, apelou para o truque das mímicas, com a frenética movimentação a qualquer pretexto farejado pelos encarregados de tapar os furos na agenda presidencial, na improvisação dos eventos, tão do gosto dos marqueteiros, para distrair o público impaciente, que começa a esvaziar a platéia, a ensaiar vaias, com a queda nos índices das pesquisas.
Nos últimos dias, depois do alívio passageiro com o depoimento do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, assistimos, entre bocejos, a espetáculos francamente decepcionantes. Não bastasse a reunião ministerial na Granja do Torto, que varou a tarde e entrou pela noite e da qual não resultou nada além do infalível discurso de Lula e o tímido pedido de desculpas pela descoberta da corrupção que devasta o PT e salpica lama no governo, a reincidência ampliada, com o encontro dos presidentes dos três poderes no Palácio do Planalto, lembra o blefe no jogo de pôquer entre parceiros sem cacife para bancar aposta.
Rendeu a foto de pose severa, ao redor da mesa ampla, com o presidente Lula ao centro, ladeado pelo vice José de Alencar e o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, além do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; do deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara; do ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e do procurador geral da República, Antonio Fernandes de Souza.
Como se vê, a nata escolhida a dedo. Para quê? Para o flagrante do que a nota conjunta carimba como a completa normalidade do país e o pleno e harmonioso funcionamento das instituições democráticas. Vazou pelo ralo das inconfidências o reconhecimento pelo presidente, na informalidade da conversa, da sua dificuldade para candidatar-se à reeleição.
Não chega a provocar espanto, mas é a primeira vez em que Lula expõe as suas dúvidas e desce degraus na escada da arrogante certeza da emplacar o segundo mandato.
Pouco recheio para tão pomposa exibição que ocupou horas do horário de expediente da cúpula do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. O jeito foi encaixar promessas de providências retiradas dos arquivos empoeirados onde foram esquecidas em anos de desatenção e rotuladas com o título genérico de "propostas que possam dotar o país de legislação mais avançada no controle das movimentações financeiras".
Neste baú cabe tudo. Na lengalenga pastosa, linhas adiante, a divagação paira, em vôo altaneiro, nas considerações sábias sobre a conveniente oportunidade de que "o processo de apuração pelo qual passa o Brasil fosse coroado por uma reforma que garantisse mais transparência, representatividade e solidez ao regime político".
Eis aí uma sugestão que tem o endosso unânime do país. Resta esclarecer por que os proponentes, com a faca o queijo na mão, perderam e continuam desperdiçando tanto tempo?
Distraído com tais engambelos, o governo foi atropelado por mais uma grave encrenca: o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu, por unanimidade, proceder a uma auditoria nos cartões de crédito corporativos usados pela Secretária de Administração da Casa Civil da Presidência e pela Agência Brasileira de Informações (Abin).
A gastança com os cartões despertou a suspeita do senador Renan Calheiros: de janeiro a julho deste ano, o Gabinete da Presidência gastou R$ 4,1 milhões. Em 2004, entre janeiro e agosto, os saques em dinheiro vivo batem em R$ 2,2 milhões. Os cartões são utilizados por assessores do governo, responsáveis pelas despesas do Gabinete da Presidência da República e da Granja do Torto, residência do presidente e de sua família.
Suspeitas não caracterizam denúncia. Ainda que não se constate desvio de dinheiro público, o governo não se livra da desconfiança da leviandade com que tais excessos se repetem, na ciranda infernal que atormenta o presidente a ponto de levá-lo a especular sobre a dolorosa renúncia à reeleição.
O segundo mandato, antes da implosão do PT e do estouro das patifarias do caixa dois e do mensalão, era certeza sem nuvem de dúvida, favas contadas no caçuá das douradas fantasias do obstinado e vitorioso favorito, nos áureos tempos dos percentuais recordistas de popularidade e dos aplauso dos 52 milhões de votos que o elegeram e que escapam por entre os rombos da decepção.
Entrevista:O Estado inteligente
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