Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, agosto 29, 2005

VINICIUS TORRES FREIRE O fracasso dos intelectuais


FOLHA DE S PAULO

 SÃO PAULO - O debate político brasileiro sempre teve muito de teatro, farsa. Metáforas e ficções constituem as idéias políticas de qualquer lugar e tempo. Mas são muito fortes na nossa identidade o metaforismo precário, delirante ou farsesco; no melhor dos casos, idéias dependentes e imperfeitas. Atores políticos e intelectuais representamos o país por meio de colagens de idéias políticas e sociais criadas para tratar de outras paragens.
Pregadores do liberalismo eram escravistas, teríamos uma revolução burguesa sem burgueses, a frente liberal veio da ditadura, os social-democratas são liberalóides e os socialistas são manés do caixa-dois.
Importamos sem mais modas modernizantes, "como se" dependesse de mera "agenda de reformas" e "institutional building" a criação, de ora para outra, de uma economia de mercado, sem levar em conta o "timing" econômico e social do país, coisa de economista tucano ou pior.
Muitos tratamos o PT como "pelo menos" um partido de alguma reforma social, "como se" um socialismo francês passado em água, "como se" comunistas italianos, "como se" estivéssemos fazendo em 30 anos a secular adaptação de partidos operários europeus ao status quo.
Vivemos de pensar com "como ses". Muito criticamos essas idéias fora do lugar, mas não sabemos em que lugar estamos. Claro, o teatro intelectual é politicamente funcional, serve a interesses. Mas a taxa de ideologia é grande demais.
O debate da reforma política é uma cópia idiota de teorias americanas sobre partidos, nós, que somos uma federação de caciques regionais conduzidos pela "vanguarda modernizante" paulista, de PSDB e PT.
Tanto se empregou o horrendo clichê "neoliberal" e o mercado ainda nem o é, pois preso a amarras elementares, burocráticas. O "dualismo", antes objeto de ridículo do marxismo nacional, se reafirma na redução quase definitiva de 30% do povo à condição de esmoleres.
Nunca tivemos tantos bons cientistas sociais e econômicos,"papers" e doutores. Mas, se existe, o pensamento é um vício secreto no país.

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