Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 14, 2005

Deputada do PSDB confirma ter recebido oferta de dinheiro

folha de s paulo
Raquel Teixeira diz que proposta envolvia dinheiro, mas afirma que só falará na CPI



MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA, EM PARIS

Depois de passar dois dias fugindo da imprensa em Paris, a deputada federal licenciada Raquel Teixeira (PSDB-GO) deu rápida entrevista sobre o "mensalão".
Teixeira diz ter sido assediada por aliados do governo federal, que, segundo o governador de Goiás, Marconi Perillo, procuraram dois deputados tucanos para oferecer uma "mesada" de R$ 40 mil e R$ 1 milhão por ano de "bônus" para que trocassem de sigla.
Raquel Teixeira, atual secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás, pela primeira vez falou abertamente sobre o caso. Ela, que está na França participando do "Ano de Goiás na França", disse viver um dilema "weberiano".
O sociólogo Max Weber (1864-1920) distinguia duas formas de conduta, a ética da convicção e a da responsabilidade. A primeira avalia os comportamentos por seus princípios: uma ação é boa se sua intenção é boa. A segunda avalia os comportamentos por seus resultados: uma ação é boa se ela tem êxito, mesmo que os princípios tenham sido infringidos. A primeira é a ética dos fanáticos; a segunda, a dos oportunistas.

 

Pergunta - A senhora recebeu uma oferta para mudar de partido?
Raquel Teixeira -
A verdade me obriga a dizer que sim, eu fui convidada a mudar de partido. Agora, a responsabilidade me obriga a parar por aqui. Porque não posso provar. Vai ser a palavra de uma pessoa contra a palavra da pessoa que me fez o convite.

Pergunta - Que foi o Sandro Mabel?
Teixeira -
Eu fui convidada para mudar de partido. Me foram oferecidas algumas condições que eu prefiro não falar. De prestígio dentro do partido, de...

Pergunta - De dinheiro?
Teixeira -
De dinheiro também.

Pergunta - Que partido (fez a oferta)?
Teixeira -
Um partido da base aliada do governo.

Pergunta - Se a senhora for convocada para a CPI...
Teixeira -
Se for convidada a uma CPI, vou com todo o prazer. Até porque lá acho que existe uma situação diferente de proteção jurídica, inclusive [maior] do que falar... Não tenho como provar.

Pergunta - Numa CPI, a senhora falaria.
Teixeira -
Se eu for convidada, com todo o prazer.

Pergunta - A senhora acabou de admitir que recebeu uma proposta que envolveu dinheiro. O que falta para a senhora falar?
Teixeira -
Falta falar quem foi, que jeito foi, entende? Eu não tenho como entrar em detalhes.

Pergunta - O Sandro Mabel procurou a senhora para mudar de partido?
Teixeira -
[sorrindo] Parece que ele declarou isso lá em Goiânia. Eu não falei o nome dele em lugar nenhum. Na verdade, eu falei desse assunto, quando aconteceu, com o governador, e com mais ninguém. Todo mundo que falou até agora em meu nome o fez indevidamente.

Pergunta - Até o governador?
Teixeira -
Mas o governador não falou meu nome em momento algum. Então, falaram meu nome, mas a única pessoa com quem conversei sobre esse assunto foi com o governador.

Pergunta - Quem foi o outro deputado (abordado para trocar de partido mediante mesada)?
Teixeira -
Ah, não sei.

Pergunta - Foi o Sandro Mabel que falou com a senhora?
Teixeira -
Não sei.

Pergunta - Quando essa pessoa falou com a senhora, a gente tem a informação de que o Waldomiro (Diniz) também falou.
Teixeira -
Não.

Pergunta - O Waldomiro não tem nada a ver com isso?
Teixeira -
Não, não tem nada a ver com isso.

Pergunta - A senhora falou com o José Dirceu?
Teixeira -
Sobre isso, não.

Pergunta - A sra. tem acompanhado o noticiário. Qual é sua avaliação do que está acontecendo?
Teixeira -
Vejo com tristeza, lamentando, mas eu acho que veio à tona uma coisa que mais cedo ou mais tarde ia explodir. Eu não quero fazer julgamento de outras pessoas. Eu respondo pelos meus atos. Eu acho que deve ser apurado tudo, até as últimas conseqüências. É um momento importante da vida política brasileira. Veio à tona um problema muito grave que deve ser apurado até o final. Temos de ter a evolução (das investigações). Eu acho que podem surgir provas.

Pergunta - Na verdade a sra. sofreu uma tentativa de suborno. Não pensa em fazer um processo?
Teixeira -
Esse foi um convite até revestido de um certo prestígio. Eu teria uma situação... Eu sou ligada à área da educação. Eu sairia pelo Brasil vinculando a imagem da educação a esse partido, era uma tentativa do partido de repaginar-se, de dar um aspecto diferente. Então me foi colocado até com muito prestígio. Eu daria um perfil diferente ao partido. Em momento algum houve coação. Foi realmente um convite.

Pergunta - Mas houve oferta de dinheiro?
Teixeira -
Também.

Pergunta - Como a senhora reagiu na hora?
Teixeira -
Estou no primeiro mandato. Por isso eu fui conversar com o governador, que é meu orientador político. Fui tentar entender o que estava acontecendo. Fiquei meio perplexa.

Pergunta - Temos a informação de que foi uma proposta inicial de R$ 30 mil que depois chegou a 50 mil reais. A sra. confirma ou nega?
Teixeira -
Não confirmo nem nego.

Pergunta - Existe ainda a informação de que haveria oferta de R$ 1 milhão para a troca de partido.
Teixeira -
Também não confirmo nem nego.

Pergunta - Mas se a senhora fala que houve oferta de dinheiro, claramente, por que não pode falar o valor?
Teixeira -
Não sei. É um feeling.

Pergunta - Mas teve um valor exato?
Teixeira -
[confirma com a cabeça]

Pergunta - A senhora consultou um advogado?
Teixeira -
Não. Por isso estou até receosa, entende? Meu cuidado é esse.

Pergunta - Você acha que o presidente Lula sabia dessa abordagem que acontecia no Congresso?
Teixeira -
Eu não tenho contato com o presidente.

Pergunta - A senhora acha que outra pessoa do governo sabia?
Teixeira -
Acredito.

Pergunta - Por quê?
Teixeira -
Estou lendo os jornais. Eu acho que está claro isso.

Pergunta - Isso (a proposta) chocou a senhora?
Teixeira -
Nessa idade, eu não me choco com mais nada. Mas me surpreendeu profundamente.

Pergunta - A senhora acha que é prática generalizada?
Teixeira -
Não, em hipótese alguma. É injusto generalizar.

Pergunta - Na abordagem que a senhora sofreu, foi falado o nome de Delúbio?
Teixeira -
Não.

Pergunta - E do José Dirceu?
Teixeira -
Não.

Pergunta - De alguma outra pessoa?
Teixeira -
Eu não quero entrar em detalhes. Eu não quero falar de coisas que não posso provar.

Pergunta - A senhora foi procurada pelo Palácio do Planalto nesses últimos dias, quando já estava em Paris?
Teixeira -
Eu prefiro não entrar nisso.

Pergunta - Mas a senhora foi (procurada)?
Teixeira -
[rindo] Olha, foi um prazer conversar com vocês.

Governador diz que revelou fato a Lula em 2004 DA REDAÇÃO

No dia 6 de junho, quando a Folha publicou a entrevista de Roberto Jefferson revelando o "mensalão", o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), disse ter contado ao presidente Lula, em 2004, que aliados do Planalto procuraram dois deputados tucanos (entre os quais Raquel Teixeira) para oferecer uma "mesada" para que eles trocassem de partido.
"Era para trocar de partido, sair do PSDB e ir para a base do governo por uma mesada de R$ 40 mil por mês e R$ 1 milhão por ano de bônus." Ele contou tudo a Lula: "O que foi revelado hoje pela Folha de S.Paulo foi dito por mim, pessoalmente, ao presidente da República um ano e meio atrás", disse.

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