Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 07, 2005

Berzoini festeja criação de vagas. E é comparado a Goebbels O Estado de S. Paulo

Ministro diz que há 92 mil novos postos de trabalho por mês; PSDB não acredita
Jamil Chade Correspondente GENEBRA
7/6/2005

O discurso do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, na conferência anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT), causou polêmica. O presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), acusou Berzoini de estar usando o "modelo Goebbels" para tentar manipular os números da criação do emprego no País durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Joseph Goebbels foi ministro da Propaganda do regime Nazista e ficou conhecido por sua tática de repetir uma informação mentirosa até que todos acreditassem que era verdade.
Berzoini afirmou em seu discurso que, no governo Lula, estão sendo criados 92 mil postos de trabalho por mês no País. Segundo o ministro, até mesmo o presidente Lula ficou surpreendido quando lhe foi apresentado esses dados.

"Esses números não existem", afirma Azeredo, que faz parte da delegação brasileira na conferência da OIT com quatro deputados, outro senador, procuradores e representantes sindicais. Ele, porém, não deu sua avaliação sobre quantos empregos teriam sido criados.

Para Berzoini, houve uma "tragédia trabalhista" no País entre 1992 e 2002. Nesse período, a participação do trabalho da renda nacional perdeu quase 10 pontos percentuais e o déficit de geração de empregos formais teria sido de 10,5 milhões de empregos. Desde a posse de Lula, o número de empregos criados já chegaria a 2,7 milhões, segundo o ministro.

Azeredo lembrou que, há poucos dias, Lula fez um discurso no Brasil afirmando que estava criando 120 mil empregos por mês. "O governo precisa se coordenar melhor, pelo menos para falar sobre quantos empregos está criando", ironizou o ex-governador mineiro.

O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) ainda ficou inconformados quando Berzoini citou os jovens como um dos focos das iniciativas do governo na área de emprego. "É um absurdo falar sobre isso aqui na OIT. Todos sabem que o programa Primeiro Emprego não funcionou."

Outra bandeira do governo Lula na OIT neste ano é defender a idéia de uma negociação para a redução das horas de trabalho. Berzoini acredita que a entidade pode ser o local ideal para promover o debate entre governos, empregadores e trabalhadores sobre uma convergência internacional das horas de trabalho.

Berzoini acredita que essa redução pode ser um fator de promoção da competitividade diante dos ganhos obtidos com a produtividade nos últimos 15 anos.

Em 1919, a primeira convenção da OIT estabeleceu uma harmonização das horas de trabalho e analistas se questionam se isso não poderia se repetir agora. O problema é que, de todos os mais de 180 países membros da OIT, menos de um terço ratificou o tratado. "O número de ratificações para um novo acordo também seria baixa", prevê Bernard Boisson, representante do Movimento de Empresas da França.

Para o ministro, há espaço no Brasil para a redução da jornada de trabalho diante do aumento da produtividade no País. Mas isso somente deveria ocorrer se houvesse um acordo internacional. No Brasil, a última redução ocorreu em 1988, quando a jornada passou de 48 horas por semana para 44 horas. No setor de serviços, a média é de 40, horas por semana, enquanto o comércio apresenta uma média de 46,8 horas.

Enquanto não há consenso sobre o futuro das horas de trabalho, o diretor da OIT, o chileno Juan Somavia, alertou ontem que o desemprego e subemprego podem ser os maiores riscos para a segurança, desenvolvimento e para a democracia nos países.

Apesar de um crescimento da economia mundial de 5% em 2004, o número de empregos gerados aumentou em só 1,7% no ano passado. Somavia ainda indica que 1 bilhão de pessoas estão sem trabalho no mundo ou sendo pagas insuficientemente. Segundo ele, só 50% dos jovens encontram trabalho e a crise do emprego deve ser lidada politicamente como uma questão urgente.
clipping ASCOM

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