O PT corre o sério risco de se arrepender da sua nota de ontem, segundo a qual "não têm o mínimo fundamento na realidade" as acusações do deputado Roberto Jefferson, em entrevista à Folha de S.
Paulo, de que o tesoureiro petista, Delúbio Soares, pagava mesadas de R$ 30 mil aos parlamentares do PL e do PP.
Por menor que seja a credibilidade do presidente do PTB – acusado de ser o mentor do esquema de corrupção nos Correios e de exigir de um presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) mesada de R$ 400 mil –, ainda é maior do que a do partido do governo.
Nenhum brasileiro minimamente informado acreditará que "o relacionamento do PT com todos os partidos da base de sustentação do governo, inclusive o PTB", como diz a nota, "se assenta em pressupostos políticos e programáticos".
Não há qualquer resquício de dúvida sobre os meios a que os operadores recorreram com o maior descaramento para "garantir a governabilidade do País e implementar o programa de governo pelo qual o presidente Lula foi eleito" – ou, como está à vista de todos agora, para sufocar a CPI dos Correios.
As últimas pesquisas sobre a avaliação do governo, com uma penca de más notícias para o presidente Lula também no quesito corrupção, indicam que não poderia haver hora pior do que esta para o PT tratar o chamado "público externo" como se fosse constituído de imbecis.
Apelar novamente para o argumento de que a Polícia Federal, o Ministério Público e a Controladoria-Geral da União se desdobram para elucidar as denúncias que tomam conta do noticiário e isso basta é tapar o sol com peneira: o PT deixou definitivamente de parecer honesto.
A reação do partido às declarações plangentes e ameaçadoras do deputado – que se queixava dos petistas por não terem se solidarizado com ele, ao contrário de Lula, no caso dos Correios – sugere que o governo resolveu queimar os navios, sem deixar uma brecha para um mea-culpa numa situação-limite.
O efeito mais provável dessa atitude desafiadora será estimular na oposição uma resposta contrária de igual intensidade, aumentando as tensões políticas e a desconfiança nos meios econômicos e financeiros, que já derrubou o Ibovespa ontem.
Mesmo tendo partido de quem partiu, a acusação clama por providências.
Mal secara a tinta da nota do PT, por sinal, o líder do PDT no Senado, Jefferson Peres, pediu o imprescindível: a mobilização do Conselho de Ética e da Corregedoria da Câmara para investigar as ações do tesoureiro Delúbio – sobre quem pairavam pesadas suspeitas não como pagador, mas como arrecadador.
O deputado "não faria uma denúncia desta, se não fosse verdadeira", avalia Peres.
"Agora se entende por que o governo comprometeu até o ministro da Fazenda para barrar a CPI dos Correios.
" O tom da entrevista, aliás, não deixa margem a dúvidas: sabendo que não sairá ileso da crise ("não me preocupa mais o mandato, não vou brigar por ele"), Jefferson resolveu levar consigo o PT para o cadafalso.
Pagando solidariedade com solidariedade, poupou o presidente Lula, dizendo que ele "chorou" – de vergonha ou de desespero? – quando lhe contou o que Delúbio fazia e que, desde então, o "mensalão" teria cessado.
Mas a questão central, evidentemente, não são as manobras do antigo capitão da tropa de choque collorida, embora ele decerto ainda não disse tudo que sabe.
O ponto é que o presidente só tem a escolher entre o menos mal e o pior – para ele e o seu partido.
O movimento inicial, a nota do PT, foi uma escolha pelo pior.
O menos mal teria sido o próprio Lula anunciar já na manhã de ontem que, diante do fato novo, instruíra os líderes governistas a apoiar não apenas a CPI dos Correios, mas também toda e qualquer investigação parlamentar sobre a compra de votos no Legislativo revelada por Jefferson.
O fato de não tê-lo feito representa literalmente uma provocação que a oposição aceitará de bom grado.
Dela, de todo modo, se espera que seja mais responsável do que o governo.
É de seu dever contribuir para expor o que possa haver de fraudulento nas ações do Planalto e do PT.
É de sua conveniência minar o patrimônio eleitoral de um presidente que, enquanto o mundo à sua volta ameaça ruir, continua obsessivamente em campanha, como se viu no fim de semana em São Bernardo.
Mas a oposição não pode ignorar que no Brasil ainda é tênue e quebradiça a linha que separa crise política e crise institucional.
A forte queda da Bolsa ontem é um sinal ominoso.Clipping ASCOM
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