Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 13, 2007

A "itamarfose" de Lula - Plínio Fraga




Folha de S. Paulo
13/2/2007

Insosso, perdido, pusilânime. Monoglota, paroquial, caipira. Teimoso, obtuso, turrão. Fraco, indeciso, temperamental. Sortudo, predestinado, atabalhoado. A associação desses termos ao ex-presidente Itamar Franco repetiu-se ao longo de seu mandato, justa ou injustamente.
Itamar foi o presidente mais ridicularizado após a redemocratização, mesmo tendo como concorrente a broa de milho, o jaquetão, os bigodes e o livro "Brejal dos Guajas" de Sarney. Mas seu arsenal não era fraco: a volta do Fusca, o pão-de-queijo, a Lilian Ramos, os pitos públicos em ministros, a República de Juiz de Fora que o adulava e as sessões de cinema com namoradas que não eram o que pareciam ser.
Em setembro de 92, às vésperas de Itamar substituir Fernando Collor, Lula afirmou: "Se o governo Itamar não der certo, eu reúno uns voluntários e vou para a Somália, prestar ajuda humanitária aos famintos. Lá, pelo menos, eu sei que, pior do que está, não fica".
Em termos de Brasil, não se pode nunca dizer que pior do que está não fica. A composição de uma equipe ministerial devia atender a um projeto de país -qualquer que fosse o país ou o projeto.
Lula ultrapassa as fronteiras do ridículo ao dizer que "em 20 dias terá o desenho do ministério" do novo mandato. Dos 1.460 dias do segundo termo, o presidente terá perdido pelo menos 63 por inapetência, impotência, inoperância ou incompetência.
Pode ser que na sexta-feira de 31 de dezembro de 2010 descubra-se que o melhor período do segundo mandato do governo Lula foi aquele em que eram ministros Paulo Sérgio Passos, Pedro Brito, Agenor Álvares, Márcio Fortes e Orlando Silva -constelação de políticos sem brilho que seria um absurdo astrofísico, mas é totalmente plausível para um Lula em "itamarfose".

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