editorial |
O Estado de S. Paulo |
15/2/2007 |
Inspeção realizada na estrutura metálica que sustenta as paredes da Estação Fradique Coutinho, em construção na Linha 4 do Metrô, constatou problemas graves na aplicação de soldas, além do uso de materiais em discordância com as normas técnicas. Conforme laudo elaborado pelo inspetor de soldagem Nelson Augusto Damásio, da empresa Tecnoplani Inspeções, as falhas poderiam causar “acidentes de proporções imprevisíveis” no local. O laudo foi divulgado pelo Jornal Nacional, na terça-feira, um mês depois do desabamento ocorrido na Estação Pinheiros, que provocou a morte de 7 pessoas e a interdição de 55 casas. O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, José Luís Portella, não se conteve: “Passou dos limites. Quero que o Metrô me explique de que forma está fazendo a fiscalização.” Assim como o secretário, todos querem explicações sobre a falta de controle na execução de um projeto de tamanha importância. O contrato assinado pela Companhia do Metropolitano (Metrô) e pelo Consórcio Via Amarela, formado pelas empresas Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS, Alstom, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa, estabelece dupla fiscalização: do Metrô e do consórcio. Após o desabamento da Estação Pinheiros, o ex-governador Geraldo Alckmin esclareceu que o Metrô tinha uma gerência para executar a tarefa. Na última quarta-feira, o presidente do Metrô, Luiz Carlos David, afirmou que um engenheiro da empresa está permanentemente nas obras. É pouco e parece ter ocorrido desleixo por parte do Metrô na fiscalização. A inspeção na Estação Fradique Coutinho constatou 15 irregularidades na construção. Na estrutura metálica que suporta a obra há juntas sem soldagem, outras com reforço excessivo e algumas soldadas de um único lado. Tais falhas sugerem a possibilidade de as empreiteiras terem utilizado trabalho de operários sem qualificação e equipamentos inadequados, além de não terem empregado a tecnologia disponível e indispensável para a segurança da construção. A fiscalização na Estação Fradique Coutinho foi realizada por ordem do governo estadual, após o acidente na Estação Pinheiros. Seus resultados, porém, não foram enviados ao secretário de Transportes Metropolitanos, mas mantidos em poder do consórcio. O laudo da perícia recomendava a paralisação da construção até que fossem iniciados os trabalhos de reparação das soldas, que corriam o risco de romper-se. Diante da indignação do secretário e de populares, o coordenador do projeto do Consórcio Via Amarela, Cássio Vital, e o presidente do Metrô, Luiz Carlos David, garantiram que a obra é segura e não há risco de desabamento. Segundo o engenheiro Vital, o inspetor de soldagem extrapolou nas conclusões. “Estão transformando um relatório de solda de rotina em uma questão nacional”, disse o presidente do Metrô. O laudo da inspeção é inegavelmente grave. Falhas na construção já provocaram mortes e prejuízos materiais a moradores da região. A Linha 4 - Amarela é um dos maiores projetos de transporte público em desenvolvimento no País e representa um investimento de R$ 3,1 bilhões. O governo do Estado obteve financiamento externo de US$ 418 milhões - metade vinda do Banco Mundial e a outra, de um consórcio de bancos japoneses liderados pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC). É um empreendimento realizado em Parceria Público-Privada (PPP), no qual o concessionário investirá US$ 340 milhões na compra de trens e sistemas operacionais e será responsável pela operação e manutenção da Linha 4. A negligência na construção e na fiscalização poderá comprometer futuras PPPs, além de afetar negociações de novos financiamentos externos ao Brasil. Mais que isso, coloca em dúvida a segurança de um sistema que transportará 900 mil pessoas por dia. Após a divulgação do laudo, o presidente do Metrô foi chamado pelo secretário de Transportes Metropolitanos para uma reunião que se estendeu até a madrugada de quarta-feira, na qual foi decidida mudança de atitude da empresa: todos os laudos de inspeções da obra, realizadas a partir de 12 de janeiro e das futuras, deverão ser enviados ao Metrô. Além de simplesmente analisar laudos elaborados pelo consórcio, o corpo técnico do Metrô - e não apenas um engenheiro - deveria ser encarregado de fiscalizar e periciar todas as obras da Linha 4 - Amarela, inclusive as etapas já concluídas. Deveria reassumir uma tarefa essencial que foi negligenciada. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, fevereiro 15, 2007
Alerta na Linha 4
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