Em agenda dominada pela proliferação de armas, o Iraque e o Eixo do Mal, a AL é irrelevante e prescindível
A PEDRADA da candidatura da Venezuela ao Conselho de Segurança da ONU fez voar em mil pedaços a rachada vitrina da unidade latino-americana que o nosso presidente tentava esconder com fita durex. Ao contrário do que afirmou Lula no discurso da vitória, nunca o continente esteve tão dividido como agora. Mesmo no auge da crise de Cuba, havia temas unificadores: o esforço de converter a Aliança para o Progresso em alavanca de financiamento e industrialização, a criação da Alalc para integrar, sem exclusões, todos os latinos, do México à Argentina.
Não se podia prescindir da América Latina em certos problemas da Guerra Fria: Cuba, a Revolução Sandinista, as guerrilhas em El Salvador e na Guatemala. Essas questões catalisaram iniciativas da região, com o fim de evitar a invasão de Cuba, seu total isolamento ou para mediar saída pacífica para os dramas centro-americanos. Exemplos notáveis foram os grupos de Contadora e de Apoio, com papel decisivo na pacificação da América Central.
No terreno econômico, a prolongada crise da dívida externa motivou também inúmeras tentativas de coordenação. Foi a época de ouro das "ilusões criativas", projetos que ficaram aquém de suas promessas, mas que começaram a aproximar os países: do Grupo Andino ao Mercado Comum Centro-Americano, do Tratado Amazônico à Aladi, culminando com os acordos Argentina-Brasil da era Sarney-Alfonsín, semente do Mercosul.
O fim sucessivo dos regimes militares, da crise da dívida e, sobretudo, da Guerra Fria deu lugar a um paradoxo: deixados a si próprios, os latinos se paroquializaram. Não há mais interesses comuns; apenas particulares, nacionais ou de vista curta. Em agenda internacional dominada por terrorismo islâmico, proliferação de armas, o Iraque, "eixo do mal" e conflito israelense-palestino, a América Latina é irrelevante e, por isso, prescindível.
Os do norte não perderam tempo em integrar-se ao espaço econômico norte-americano. Os do sul dividiram-se diante da perspectiva de acordos de livre comércio com os Estados Unidos e, um a um, a começar pelo Pacífico -Chile, Peru, Colômbia, amanhã quiçá Equador-, sucumbiram à poderosa atração do maior mercado do mundo.
Como se isso não bastasse, a ação de Chávez acabou de rachar o continente. O impasse na ONU é fruto de um acúmulo de provocações: as intervenções belicosas em eleições alheias, a quimera de suposto projeto bolivariano excludente dos EUA, a diplomacia de hostilidade sistemática aos interesses americanos nos quatro cantos do globo, a formação de milícia pessoal armada até os dentes e o açulamento de ações radicais na Bolívia e em outros países.
A divisão nunca é passiva ou estática; ela tende a gerar conflitos e os próximos talvez sejam mais destrutivos do que o quase ridículo episódio onusiano. A situação que se criou é perigosa, devendo ser desmontada o quanto antes.
É possível que o reforço dos democratas nos Estados Unidos ajude a promover clima mais flexível e equilibrado na política hemisférica, mas não se pode contar com isso. Na provável carência de papel mais esclarecido de Washington, cabe ao Brasil usar de sua influência de maneira construtiva. Não tem sentido, por exemplo, recear que nossos interesses fiquem ameaçados com as ações inspiradas pelo Grupo Andino, em cooperação com o Chile e o México, para explorar melhor o potencial econômico da parceria com a Ásia dentro da Associação dos Países do Pacífico. O que temos de fazer é ver como podemos nos associar ao projeto.
Caso se viabilize ou não negociação comercial equitativa com os Estados Unidos, o Brasil e o Mercosul precisam, ao mesmo tempo, celebrar com o México, o Chile, o Peru, a Colômbia, acordos que ao menos nos garantam nesses mercados tratamento similar ao dos americanos.
Deve-se salvar o que é possível da integração energética, desde que com garantias jurídicas contra violências como as que acaba de praticar a Bolívia.
Um país é prescindível não só por não ter poder mas quando o tem e não o usa. Como fizemos, ao abdicar da defesa de direitos legítimos na Bolívia ou por receio de ferir suscetibilidades na reunião de Córdoba dominada pela tríade Chávez-Fidel-Kirchner. O Brasil pode ajudar a sarar a ferida da divisão desde que ponha seu poder a serviço do equilíbrio e da moderação.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2006
(6085)
-
▼
novembro
(455)
- Imprensa, silêncio das oposições e Niemöller
- Demétrio Magnoli Policiais do passado
- Poderes sem pudor fiscal
- Caso de polícia, não de ONG
- A razão de ser da Radiobrás
- A raposa e o porco-espinho
- Celso Ming - No crédito, o juro não cai
- Dora Kramer - Por honra da firma
- Míriam Leitão - Erradicar o mal
- Eliane Cantanhede - Narrativa própria e apropriada
- Procurador-geral não vê uma ligação de Lula com me...
- Boa gestão na velha Radiobrás VINICIUS MOTA
- gora é Tarso Genro quem ataca a imprensa
- OPOSIÇÃO AJUDOU A FAZER A PIZZA
- BRASIL VARONIL Dora Kramer
- ALEXANDRE SCHWARTSMAN Selic a 10% não é inflacioná...
- FERNANDO RODRIGUES Publicidade estatal
- O imperativo das usinas nucleares Rubens Vaz da C...
- Celso Ming - Dia de Copom
- Dora Kramer - Corrida de fundo
- Miriam Leitão Forno de pizza
- O nó de marinheiro do Brasil Roberto DaMatta
- Vamos ter saudades de Gushiken?José Nêumanne
- Bandeirantes-Gamecorp: a "democratização" da mídia...
- AUGUSTO NUNES Três socos na sensatez
- O retorno dos marajás
- Fernando Rodrigues - A necessidade do homem
- Eliane Cantanhede - "Piloto automático"
- Míriam Leitão - Ano morno
- Lula toma as rédeas no PT
- Rendição - e o realismo
- Celso Ming - Um conceito e seus disfarces
- Dora Kramer - Com a faca e o queijo
- A OPOSIÇÃO E A GOVERNABILIDADE
- Celso Ming - Beleza de plantação!
- Dora Kramer - Cerca Lourenço
- PF quer ajuda da CPI dos Sanguessugas para esclare...
- PLÍNIO FRAGA Sorry, periferia
- FERNANDO RODRIGUES Repetição da farsa
- Tentação autoritária FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Berzoniev não quer nem saber: diz que volta a pres...
- "Celso não morreu porque era do PT, mas porque a q...
- FOLHA Entrevista Tasso Jereissati
- Conta não fecha e irrita técnicos da Fazenda
- 'Exemplo de cooperativismo' dirigido por Lorenzetti
- Ministério tem 12 servidores para fiscalizar 4 mil...
- Agroenergia: novo paradigma agrícola - Roberto Rod...
- AUGUSTO NUNES Sete Dias
- JOÃO UBALDO RIBEIRO O estouro da boiada num boteco...
- Miriam Leitão Descontrole no ar
- ELIANE CANTANHÊDE O real complô das elites
- CLÓVIS ROSSI Férias, as últimas?
- Ainda Celso Daniel
- O rap da empulhação
- CELSO MING - Operação destravamento
- Dora Kramer O baronato faz acerto na CPI
- Aécio precisa fazer contas - Mailson da Nóbrega
- REINALDO AZEVEDO
- REINALDO AZEVEDO
- GESNER OLIVEIRA Mitos sobre concorrência e bancos
- FERNANDO RODRIGUES A coalizão e a economia
- CLÓVIS ROSSI O difícil, mas necessário
- Miriam Leitão Andar no trampolim
- Carta ao leitor
- Diogo Mainardi A imprensa lubrificada
- MILLÔR
- Ponto de vista: Lya Luft
- André Petry Os Michéis Têmeres
- Roberto Pompeu de Toledo Agruras dos inventores
- O Banqueiro do Sertão, de Jorge Caldeira
- O Crocodilo: crítica violenta a Berlusconi
- Quantas árvores pagam sua dívida com a natureza
- O envenenamento como arma contra os inimigos do go...
- Líbano Assassinato de ministro empurra o país pa...
- A fusão das Lojas Americanas com o Submarino
- Hidrogênio: não polui, mas é muito caro
- Novos bafômetros travam o carro do motorista bêbado
- Os minicarros já somam 35% do mercado no Japão
- Casamento: as chances da mulher são cada vez menores
- Os cinco nós da aviação brasileira
- Como Lula está cooptando a oposição
- As memórias de Hélio Bicudo
- Aloprados do PT combinam defesa e se fazem de vítimas
- O deputado mais votado do PT é preso por crime fin...
- Casca de banana para Lula
- VEJA Entrevista: David Rockefeller
- Tristes trópicos
- O deboche se repete
- Arquivamento suspeito
- "Entreatos" é Lula interrompido
- Eliane Cantanhede - Admirável mundo lulista
- Clóvis Rossi - A normalidade da anomalia
- Míriam Leitão - Temporada 51
- Celso Ming - Reforço na Eletrobrás
- Dora Kramer - Os sete mandamentos
- Cuidado! Há um petista de olho em você
- ELIANE CANTANHÊDE Nem oito nem 80
- CLÓVIS ROSSI Agora, o "voto" dos ricos
- Alô, governador!
- Fala sério!- CARLOS ALBERTO SARDENBERG
-
▼
novembro
(455)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA