Escândalos, denúncias de corrupção, relações promíscuas com lobistas, indiciamentos, financiamento irregular de campanha, falta de confiança da população no Congresso. O panorama parece familiar, mas o fim da história pode ser diferente. Nas eleições dos Estados Unidos, na próxima terçafeira, a onda interminável de irregularidades envolvendo parlamentares governistas pode custar ao Partido Republicano a maioria nas duas Casas.
Se perder, será a primeira vez que o presidente George Bush vai governar sem o controle do Congresso. Desde 1994, os republicanos controlam o Parlamento, mas agora existem quinze cadeiras que eles podem perder por escândalos os mais diversos.
Há uma pitada que torna um pouco mais apimentada a onda de confusão em que se metem os republicanos: os escândalos sexuais. O deputado Mark Foley foi acusado de ter assediado os estagiários do Congresso; Jim Kolbe, de ter levado os estagiários para um piquenique suspeito; Jim Gibbons, de ter atacado uma garçonete num cassino de Las Vegas; John Sweeney, de ter batido na mulher. E há vários outros envolvidos com corrupção e venda de facilidades a lobistas. Tom DeLay era o líder da maioria até o ano passado, quando renunciou devido ao escândalo de corrupção que o levou a ser indiciado. Os democratas falam em “cultura da corrupção”, que teria se espalhado entre os parlamentares republicanos, e já se preparam para ter a melhor votação em 12 anos. Os escândalos atingem diretamente 15 deputados governistas, número suficiente para que o Partido Republicano perca a maioria.
O presidente Bush tem se dedicado quase integralmente à campanha, tentando reverter o resultado que os próprios republicanos já antevêem como negativo.
Nos últimos seis dias, Bush fez um frenético tour pelos estados onde há mais risco de derrota e vai visitar outros dez estados até terçafeira; em todos eles, George Bush ganhou em 2004. Ele tem se esforçado mais em distritos tradicionalmente republicanos. Nos Estados Unidos, há representantes que são reeleitos sucessivamente, as chamadas “safe seat”. Mesmo com isso, os republicanos podem perder.
A onda democrata faz com que, em 13 cadeiras tradicionalmente dos republicanos, os democratas estejam bem na frente, e, em outras 12, há um quase empate.
No Senado, as pesquisas mostram que, em 49 das 100 cadeiras, os democratas estão na frente; em 48, a vantagem é dos republicanos e, em outras três, ainda é cedo para dizer quem vai ganhar, mas, em duas delas, a vantagem, ainda que pequena, é dos democratas.
O que aconteceu com o enorme eleitorado — 200 milhões de eleitores — americano? Os eleitores estão desapontados com o governo por uma lista de erros: excesso de gastos públicos e aumento do déficit; a guerra sem fim do Iraque, que virou o atoleiro de Bush; o aumento da preocupação ambiental, que faz com que mesmo estados governados por republicanos, como a Califórnia, tomem medidas inspiradas no Tratado de Kioto, que o governo Bush não quis assinar; e, por fim, mas não menos importante: a sensação de que as irregularidades estão se espalhando e contaminando cada vez mais re p u b l i c a n o s .
Isso tudo está alimentando uma descrença no próprio Congresso. Uma pesquisa da CNN mostrou que a metade dos entrevistados acha que a maioria dos integrantes do Congresso é corrupta e um terço dos entrevistados acha que seu próprio representante é um dos corruptos. ONGs se deram ao trabalho de fazer as contas e concluíram: esta legislatura foi a que menos trabalhou, que teve o menor número de sessões.
A eleição deste meio de mandato vai determinar não apenas o poder restante de Bush, que pode virar um lame duck (presidente sem poder) mais cedo que imaginava, mas pode ser uma prévia da corrida presidencial de 2008. É por isso que, neste fim de semana, as televisões americanas estão exibindo uma guerra sem precedentes de anúncios políticos. Nas TVs, estão programados 600 novos anúncios de candidatos.
Lá, a veiculação não é gratuita como aqui; o partido e o candidato pagam a veiculação. Nesses anúncios, os republicanos se esforçam para mudar o foco de atenção, hoje posto na Guerra do Iraque, para outros temas nos quais eles são mais fortes, como na redução de impostos que o governo republicano fez ou no tema da imigração, que alimenta o temor do americano médio de ver seu país invadido. Os democratas batem duro nos pontos fracos do adversário: “Nós não precisamos de outro deputado na cadeia”, diz um deles. Isso nos lembra que essa é outra diferença em relação aos Estados Unidos.
Lá os parlamentares acusados correm risco de serem presos e, assim, terminarem definitivamente com sua carreira política.
Essa ofensiva publicitária deve aumentar para US$ 2 bilhões o custo da campanha, US$ 400 milhões a mais que na última disputa.
A eleição parlamentar e de alguns governos estaduais nos Estados Unidos nos lembra que não somos o único país do mundo com escândalos e denúncias envolvendo parlamentares.
Em geral, isso leva a derrota eleitoral. Aqui, a faxina ficou no meio do caminho: vários mensaleiros não foram reeleitos, mas outros conseguiram a reeleição.
Esse processo de depuração acontece em todas as democracias. Em algumas, mais rapidamente e, em outras, mais lentamente. Não há nada que nos diferencie de outras democracias, exceto se, para os eleitos, a vitória for considerada uma absolvição.
Entrevista:O Estado inteligente
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