Felizmente, parece mesmo que não há mais condições no Brasil para tentar virar o jogo na marra, como já aconteceu em outros tempos. O fato é que Lula ganhou a eleição com uma margem consagradora, a maioria dos votantes o escolheu, ele se confirmou presidente constitucionalmente eleito e legítimo, o único nessas condições. O resto é choro dos derrotados ou inconformados, o qual, como no futebol, é livre. Não interessam ponderações, explicações e até alegações de que o povo votou errado, coisa que muita gente tem a cara-de-pau de fazer. Não existe esse negócio de voto errado, a não ser na cabeça individual de quem pensa assim. Voto não pode ser errado, é sempre certo. Não se estabeleceu que a maioria escolhe o chefe do Executivo livremente, por voto direto e secreto? Pois foi isso o que aconteceu e não cabe a ninguém tirar onda de porreta (palavra baiana cujo uso geral acho que faz falta, porque é bem expressiva) e dar notas à performance popular, terminando por reprová-la. A discussão sobre se houve “erro” na votação é meramente acadêmica e, claro, não pode ser proibida ou cerceada, mas é acadêmica e a essa condição deve circunscrever-se.
Felizmente também, certa mentalidade golpista, que ainda deixou escapar alguns gases de sua adiantada decomposição (esperamos todos, pelo menos) durante o período eleitoral, parece não ter mais terreno em que medrar. Bem verdade que o próprio PT, antes da acachapante vitória, andou querendo, de forma muito pouco convincente e até patética, invocar esse fantasma, mas não colou, está muito fora da moda. E, além de tudo, a massa de votos do presidente é tal que esse golpismo, mesmo que ainda tivesse alento, ia provavelmente dar-se muito mal. Se consideradas cabíveis, as medidas propostas contra o presidente devem ter seu trâmite normal, através das instituições adequadas. Eu sei que, no tempo em que não estava no poder, o presidente Lula era a favor, pelo menos aparentemente, ao “Fora FHC”, contra o qual me manifestei, como me manifestei contra o “Fora Lula” que se esboçou. Continuo absolutamente contra movimentos desse tipo. Temos instituições estabelecidas, temos um ordenamento jurídico e devemos fazer tudo dentro da lei.
Até aí morreu Neves, é claro. Mas achei que tinha de repetir isso tudo, muito menos por minha causa - pois minhas opiniões sempre foram expostas aqui para quem quisesse saber delas - do que pelo fato de que parece que não entrou direito na cabeça de algumas pessoas, como as que me pediram para desancar o presidente imediatamente, clamando pela saída dele. Ou seja, preciso me cuidar, porque pensam que sou muito mais maluco do que sou. Não sei de onde alguém pode tirar a idéia (aliás, sei, mas não quero ofender ninguém) de que sabe melhor do que o povo o que é bom para ele e de querer escolher governantes dessa forma.
Estou fora dessas todas. Mas também é indispensável lembrar que, da mesma forma que a eleição não trouxe mudança alguma e sacramentou o que está aí, eu tampouco mudei de maneira de pensar e não vejo razão para mudar. Muito menos, é claro, aderi ao esquema governante, nunca aderi a esquema nenhum. Apenas não vou cometer a petulância ridícula de vir a público afirmar que o eleitor está errado e devia acatar minhas opiniões desde o começo, até mesmo para não chegar à escolha, para muitos desagradável ou inaceitável, entre Lula e Alckmin. Se estamos (não estamos, mas temos umas tinturas) numa democracia e o que vale é a vontade da maioria, o que a maioria quer é que está certo e, portanto outra vez, não existe voto errado. Temos todos direito à nossa opinião, mas não temos o direito de impô-la à maioria.
Agora, também não vou entrar nesse verdadeiro Festival da Primavera, da Flor, do Amor e das Valsas ao Luar que aparentemente se instalou. Parece assim que o presidente Lula está começando agora, que não tem quatro anos de governo nas costas, que tudo é o raiar de um novo dia, em lindo arrebol furta-cor. Até a “esquerda” brasileira comemora a reeleição de seu candidato, apesar de este dizer que não é de esquerda, não saber bem o que é esquerda, nem nunca ter feito qualquer coisa de esquerda, muito pelo contrário. Quanto às “elites”, nem ligaram muito para a eleição e jogaram lá um candidato provinciano, sem história política nacional e sem a menor condição de ganhar. Estão muito bem servidas com Lula e, embora talvez preferissem um presidente de origem chique, de olhos azuis, alto, louro e simpático e falando 16 línguas, esse aí vem quebrando o galho dela numa boa, até alisou o cabelo e injetou botox para adequar melhor o visual ao desejável.
Dirá alguém que estou esquecendo o vasto programa social de Lula. Não, não estou, como estaria? Só que não é programa social coisa nenhuma, é a verdadeira PPP (Programa de Pobreza Progressiva), porque não está tirando dinheiro dos ricos para alimentar os pobres. Está tirando dos pobres mesmos, que pensam que barão é quem paga imposto (barão nenhum paga imposto e, quando paga, repassa), porque acham que pagar imposto é desembolsar concretamente dinheiro e não morrer em quase 50% sobre um quilo de açúcar ou de feijão. E se afana também uma boa grana da classe média, mas dos ricos nunca. Isso não é programa social, é assistencialismo mesmo e a esmola, no bom dizer de Luiz Gonzaga, vicia o cidadão.
Mas, que diabo, vamos deixar a presente nova lua-de-mel rolar, está certo, o amor é lindo, não estraguemos a festa. É verdade, fico me sentindo assim meio desmancha-prazeres, queiram por favor desculpar. Só tencionei lembrar não se tratar de começo, mas de continuação. Que dispensaria bordões novos, como “deixem o homem trabalhar”. Quem o estava impedindo antes?
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, novembro 05, 2006
JOÃO UBALDO RIBEIRO O amor é lindo
Arquivo do blog
-
▼
2006
(6085)
-
▼
novembro
(455)
- Imprensa, silêncio das oposições e Niemöller
- Demétrio Magnoli Policiais do passado
- Poderes sem pudor fiscal
- Caso de polícia, não de ONG
- A razão de ser da Radiobrás
- A raposa e o porco-espinho
- Celso Ming - No crédito, o juro não cai
- Dora Kramer - Por honra da firma
- Míriam Leitão - Erradicar o mal
- Eliane Cantanhede - Narrativa própria e apropriada
- Procurador-geral não vê uma ligação de Lula com me...
- Boa gestão na velha Radiobrás VINICIUS MOTA
- gora é Tarso Genro quem ataca a imprensa
- OPOSIÇÃO AJUDOU A FAZER A PIZZA
- BRASIL VARONIL Dora Kramer
- ALEXANDRE SCHWARTSMAN Selic a 10% não é inflacioná...
- FERNANDO RODRIGUES Publicidade estatal
- O imperativo das usinas nucleares Rubens Vaz da C...
- Celso Ming - Dia de Copom
- Dora Kramer - Corrida de fundo
- Miriam Leitão Forno de pizza
- O nó de marinheiro do Brasil Roberto DaMatta
- Vamos ter saudades de Gushiken?José Nêumanne
- Bandeirantes-Gamecorp: a "democratização" da mídia...
- AUGUSTO NUNES Três socos na sensatez
- O retorno dos marajás
- Fernando Rodrigues - A necessidade do homem
- Eliane Cantanhede - "Piloto automático"
- Míriam Leitão - Ano morno
- Lula toma as rédeas no PT
- Rendição - e o realismo
- Celso Ming - Um conceito e seus disfarces
- Dora Kramer - Com a faca e o queijo
- A OPOSIÇÃO E A GOVERNABILIDADE
- Celso Ming - Beleza de plantação!
- Dora Kramer - Cerca Lourenço
- PF quer ajuda da CPI dos Sanguessugas para esclare...
- PLÍNIO FRAGA Sorry, periferia
- FERNANDO RODRIGUES Repetição da farsa
- Tentação autoritária FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Berzoniev não quer nem saber: diz que volta a pres...
- "Celso não morreu porque era do PT, mas porque a q...
- FOLHA Entrevista Tasso Jereissati
- Conta não fecha e irrita técnicos da Fazenda
- 'Exemplo de cooperativismo' dirigido por Lorenzetti
- Ministério tem 12 servidores para fiscalizar 4 mil...
- Agroenergia: novo paradigma agrícola - Roberto Rod...
- AUGUSTO NUNES Sete Dias
- JOÃO UBALDO RIBEIRO O estouro da boiada num boteco...
- Miriam Leitão Descontrole no ar
- ELIANE CANTANHÊDE O real complô das elites
- CLÓVIS ROSSI Férias, as últimas?
- Ainda Celso Daniel
- O rap da empulhação
- CELSO MING - Operação destravamento
- Dora Kramer O baronato faz acerto na CPI
- Aécio precisa fazer contas - Mailson da Nóbrega
- REINALDO AZEVEDO
- REINALDO AZEVEDO
- GESNER OLIVEIRA Mitos sobre concorrência e bancos
- FERNANDO RODRIGUES A coalizão e a economia
- CLÓVIS ROSSI O difícil, mas necessário
- Miriam Leitão Andar no trampolim
- Carta ao leitor
- Diogo Mainardi A imprensa lubrificada
- MILLÔR
- Ponto de vista: Lya Luft
- André Petry Os Michéis Têmeres
- Roberto Pompeu de Toledo Agruras dos inventores
- O Banqueiro do Sertão, de Jorge Caldeira
- O Crocodilo: crítica violenta a Berlusconi
- Quantas árvores pagam sua dívida com a natureza
- O envenenamento como arma contra os inimigos do go...
- Líbano Assassinato de ministro empurra o país pa...
- A fusão das Lojas Americanas com o Submarino
- Hidrogênio: não polui, mas é muito caro
- Novos bafômetros travam o carro do motorista bêbado
- Os minicarros já somam 35% do mercado no Japão
- Casamento: as chances da mulher são cada vez menores
- Os cinco nós da aviação brasileira
- Como Lula está cooptando a oposição
- As memórias de Hélio Bicudo
- Aloprados do PT combinam defesa e se fazem de vítimas
- O deputado mais votado do PT é preso por crime fin...
- Casca de banana para Lula
- VEJA Entrevista: David Rockefeller
- Tristes trópicos
- O deboche se repete
- Arquivamento suspeito
- "Entreatos" é Lula interrompido
- Eliane Cantanhede - Admirável mundo lulista
- Clóvis Rossi - A normalidade da anomalia
- Míriam Leitão - Temporada 51
- Celso Ming - Reforço na Eletrobrás
- Dora Kramer - Os sete mandamentos
- Cuidado! Há um petista de olho em você
- ELIANE CANTANHÊDE Nem oito nem 80
- CLÓVIS ROSSI Agora, o "voto" dos ricos
- Alô, governador!
- Fala sério!- CARLOS ALBERTO SARDENBERG
-
▼
novembro
(455)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA