Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 12, 2006

Entre Garcia e Alencar


Por tudo que ouvi nas CPIs e li no relatório do Procurador Geral da República a respeito da "organização criminosa" que se apossou de parte do aparelho do Estado, convenci-me da existência do mensalão durante parte do primeiro governo de Lula. Ou seja: do pagamento de propinas a deputados para que se comportassem como o governo mandava - ora trocando de partidos, ora votando projetos assim e assado.

Até que o assessor especial de Lula e atual presidente do PT Marco Aurélio Garcia disse a Bob Fernandes, no site Terra Magazine de primeiro de novembro último, que o mensalão não lhe parecia "uma realidade objetiva, provada e comprovada". Sugeriu que tudo não passava de "uma construção jornalística" inspirada por Roberto Jefferson, a quem apresentou ironicamente como "uma grande reserva moral do país".

Garcia é tido entre os de sua espécie como um intelectual denso, criterioso e respeitável. É o principal conselheiro de Lula para assuntos internacionais, o que não é pouca coisa. Sempre presto atenção no que ele diz. Na entrevista ao site, ele argumentou que a tese do mensalão só ganharia consistência se "o jornalismo investigativo estabelecesse conexões entre votações e a compra de deputados." Por isso, preferia ficar com a tese do caixa 2.

Mas eis que a Folha de S. Paulo, em sua edição de hoje, publica entrevista do vice-presidente da República José de Alencar. Tudo bem, ele não é um pensador como Garcia, não tem seus méritos acadêmicos, nem mesmo sua fluência verbal. Mas como vice tem mais responsabilidades do que o outro. Sua palavra tem mais peso. E ele é tão considerado por Lula que emplacou como vice pela segunda vez consecutiva.

E o que disse à Folha Alencar sobre o mensalão? Cito:

- Não posso negar a existência do mensalão. Ficou provada a existência. Não digo o mensalão, mas um sacolão enorme ficou provado. Então, sempre fui muito a favor que as investigações sejam rigorosas.

Não sei - nem o jornal perguntou - o que Alencar quis dizer quando se referiu a "um sacolão enorme". Talvez por "sacolão" tenha se referido a um pacote mais amplo de benefícios auferidos por deputados dispostos a fazer as vontades do governo. Talvez duvide da periodicidade do pagamento do "sacolão" - poderia não ter sido mensal, por exemplo. É sabido que o governo costuma atrasar pagamentos a seus fornecedores.

Mas mensalão ou sacolão, "ficou provada" sua existência, segundo o vice-presidente da República. Restará à Justiça, em prazo suficientemente elástico para que expire, descobrir os responsáveis pelo esquema e os que lucraram com ele, punindo-os como manda a lei.

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