Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 09, 2006

Eliane Cantanhede - Bush e o Brasil




Folha de S. Paulo
9/11/2006

Como a lógica comercial nem sempre corresponde às posições políticas, o Brasil torcia pelos republicanos nos EUA e lamentava a previsão de derrota. George W. Bush tem lá seus defeitos, mas o governo Lula não quer mais discutir a invasão do Iraque, os excessos na área de segurança, a queda agora de Donald Rumsfeld (Defesa). Isso seria "coisa deles lá". O que interessava era ter um Bush forte o suficiente para retomar bem as negociações na OMC (Organização Mundial do Comércio) com os países agrícolas em desenvolvimento, como o Brasil. Pragmaticamente, seria desejável que ele ganhasse dos democratas e mantivesse a maioria no Parlamento, para ter aval político do próprio Parlamento e da sociedade (leia-se iniciativa privada) para tocar adiante as negociações, ora paradas, mas bem encaminhadas. O governo brasileiro -desde FHC, mas principalmente com Lula- tem maiores divergências ideológicas com os republicanos, mais conservadores na política, nos costumes, nas relações com o mundo. Mas o Brasil sabe que, na área comercial, os democratas são mais protecionistas: defendem os interesses internos, das suas empresas e de seus produtores com unhas e dentes, em detrimento dos parceiros. A posição brasileira, discretamente pró-republicanos, não era isolada. Ela coincidia com a de boa parte dos vizinhos -exceto os óbvios Venezuela e Bolívia, por exemplo- e com a da União Européia, uma ponta do tripé da OMC. Bem, mas as urnas confirmaram as previsões, impondo uma derrota a Bush. Planalto e Itamaraty, agora, vão ter ainda mais trabalho na retomada das conversas na OMC, sabe-se lá quando. Um dos resultados deve ser a intensificação, já, das conversas para o acordo, por fora, do Mercosul com a Europa. PS - Aliás, o nome mais forte para a Embaixada em Washington é o do embaixador Antonio Patriota.

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