O Estado de S. Paulo |
7/11/2006 |
O presidente Luiz Inácio da Silva logo depois de reeleito anunciou a intenção de reunir os 27 governadores, uns igualmente reeleitos, outro eleitos, para pedir a eles apoio a fim de tocar a agenda do País. Pareceu pretender repetir com nova roupagem a cena do início de 2003, quando desceu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado dos chefes de Executivos estaduais e com eles atravessou a Praça dos Três Poderes para entregar ao Congresso as propostas de reformas tributária e da Previdência. Desta vez, porém, terá alguma dificuldade, se é que não precisará desistir do intento. Os governadores anteciparam-se e, invertendo o sentido da frase de John Kennedy - "Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo país" -, montaram cada um uma extensa agenda de pedidos a fazer ao presidente. Estão mais interessados em tratar de viabilizar suas administrações do que em emprestar sustentação política para o presidente mostrar força diante da Nação e do novo Congresso ainda não empossado. Se mantiver a idéia de reuni-los todos juntos, Lula corre o risco de promover um encontro de demandas inexeqüíveis, porque evidentemente quase todas implicam alguma perda para a União. Os governadores cumprem seus papéis, mas ao presidente interessaria que, antes das posses, pudessem ao menos posar para uma foto em encontro político simbólico do "entendimento" proposto por Lula, mas aceito pela oposição com restrições. O PFL, por exemplo, não quer ir ao Palácio do Planalto e o PSDB acha difícil recusar, mas pede a apresentação de uma pauta objetiva de trabalho. Só para tomar "um cafezinho", não vão. Já os governadores não receiam interpretações do gênero. Apenas são pragmáticos e trataram de alinhavar desde o início suas reivindicações, todas baseadas em algum tipo de concessão por parte do governo federal, como a eterna proposta de renegociação das dívidas estaduais, conclusão de grandes obras com ajuda da União, assinaturas de convênios para tocar projetos sociais e de infra-estrutura, repasses de tributos e criação de fundos de recursos para o desenvolvimento. Evidente que o presidente Lula pode reunir os governadores para uma "social" sem precisar atender a suas demandas. Só que ele, Lula, também tem algo de importante a pedir para os governadores: apoio de suas bancadas para as prorrogações da CPMF e da DRU (Desvinculação de Receitas da União), por meio da qual a União pode mexer livremente em 20% dos recursos constitucionalmente comprometidos para setores como saúde e educação. A necessidade objetiva, portanto, é que presidirá as relações do presidente com os Estados. Muito mais que quaisquer questões de ordem política. Estas serão resolvidas, ou não, no campo de batalha do Congresso. Dom de iludir Oscila entre a franqueza absoluta e a desfaçatez total a entrevista do publicitário João Santana a Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, em que o responsável pela campanha de Lula assume sem problemas o dom de manipular impressões e emoções. Nunca antes neste país um marqueteiro reconheceu tão abertamente que a campanha eleitoral é feita de truques, não raro dissonantes da realidade. Dois trechos chamam atenção de modo especial na exposição de suas teorias sobre comunicação política. Uma dessas teses alimenta no "imaginário popular", como ele diz, as figuras do Lula "fortão" - o pobre que virou poderoso e assim serve como referência às expectativas de ascensão - e o Lula "fraquinho" - acionado quando sofre ataques "e o povo pensa que é um ato das elites para derrubá-lo". Uma representação, utilizada à conveniência da ocasião. Outra tese é a conjugação de sentimentos nacional-estatizantes difusos na sociedade com a percepção, ainda que suposta, da existência de "tramas obscuras". Este estratagema, segundo Santana, foi utilizado para "lançar ao debate" no segundo turno das eleições a questão das privatizações do governo Fernando Henrique. "Não quero questionar como foram feitas as privatizações, mas é fato que ficou na cabeça das pessoas como se algo obscuro tivesse ocorrido", diz ele, reconhecendo como "fabuloso" o benefício da privatização das telecomunicações, mas reivindicando o direito de não fazer "juízo de valor" na propaganda e admitindo que o tema não foi abordado no primeiro turno porque "não precisou". No segundo, diz o publicitário, "enxerguei ali um monstro vivo que poderia ser jogado". O problema, na ótica dele, foi do adversário, que não soube responder a contento. "O Alckmin poderia ter mostrado objetivamente o uso de telefones, de computadores, da internet." Quer dizer, lança-se mão de mistificações pautadas em sentimentos captados por pesquisas e a realidade dos fatos fica à mercê de quem sabe ludibriar melhor. É o tipo da conduta que não se corrige com reforma política. É questão de princípios. Ou se tem ou não se tem. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, novembro 07, 2006
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