editorial |
O Estado de S. Paulo |
24/2/2006 |
A decisão do Tesouro Nacional de resgatar antecipadamente o estoque de títulos emitidos em 1994 e ainda em circulação, cujo valor é estimado em US$ 6,6 bilhões, embora não seja novidade, tem um efeito psicológico importante. Esses títulos resumiam, para os investidores, a história da crise da dívida externa vivida pelo Brasil e por outros países em desenvolvimento a partir de 1982. No caso brasileiro, esses títulos eram também conseqüência da suspensão dos pagamentos devidos aos credores externos decidida pelo governo Sarney (1985-1990) e carregavam consigo a imagem de um Brasil caloteiro. Só após uma longa negociação, realizada de acordo com as diretrizes apresentadas em 1989 pelo então secretário do Tesouro dos EUA, Nicholas Brady, o governo brasileiro conseguiu reestruturar a dívida, então de US$ 55 bilhões. Basicamente, o Plano Brady, como ficou conhecida a proposta, permitia a substituição, com desconto, da dívida vencida, desde que os países devedores oferecessem garantias concretas. A compra, até 15 de abril, dos últimos desses papéis, emitidos em 1994, simboliza o fim de um período marcado por dificuldades para os países devedores. Em razão das tensões surgidas durante as negociações e da desconfiança que a suspensão dos pagamentos gerou na comunidade financeira, esses países enfrentaram o problema da redução da entrada de capitais ou arcaram com um custo elevado para obter recursos externos. O anúncio da decisão do governo de recomprar os papéis "bradies", como passaram a ser denominados os títulos emitidos em 1994, apenas confirma uma estratégia que já era conhecida. Há algumas semanas, o governo havia confirmado que, como já suspeitavam os operadores do mercado de títulos da dívida, estava resgatando antecipadamente alguns papéis de sua emissão, em particular os bônus "bradies". A grande liquidez internacional atual e os bons resultados das contas externas brasileiras deram importante apoio à estratégia do governo de melhorar a composição e alongar o prazo de vencimento da dívida externa para, desse modo, fortalecer a resistência da economia nacional a choques vindos do exterior e, se possível, melhorar a classificação do Brasil pelas agências de avaliação de riscos. O resultado é positivo para o País. Mas, aqui dentro, a dívida externa continuará a funcionar como assombração para aqueles que, sobretudo dentro do PT, ainda não entenderam as mudanças pelas quais passou o mundo nos últimos anos e o fato de que ela já não é mais o problema altamente preocupante que representou na década de 80: hoje representa apenas 20% do PIB brasileiro. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, fevereiro 24, 2006
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