Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 28, 2006

CLÓVIS ROSSI O neocoronel

FOLHA
SÃO PAULO - Na sua invencível capacidade de mudar tudo para que tudo fique como está, o jogo político brasileiro engoliu um "sapo barbudo" para cuspi-lo como neocoronel.
É o que sobrou de Luiz Inácio Lula da Silva, que nasceu como inovador. A prova mais recente está nos dados da pesquisa do Datafolha segundo os quais a virada de Lula deve-se quase exclusivamente aos que recebem uma ou mais das bolsas-esmola, criadas no governo anterior e ampliadas no atual.
O coronelismo, para ficar na versão curta, é a fidelização de uma clientela por meio do fornecimento de bens/serviços que deveriam ser obrigatórios, tipo dentadura, cadeira de rodas, internação hospitalar. Na sua versão mais crua, a versão Severino Cavalcanti, é a intervenção para libertar bêbados da cadeia nos grotões da pátria.
No neocoronelismo, saem dentaduras, entra o dinheiro e aumenta a escala. Mas o modelo é essencialmente o mesmo: o da doação a quem não tem nem condições nem oportunidades para obter uma renda minimamente decente. Não que seja criticável. Entre condenar à fome a massa de brasileiros miseráveis e o assistencialismo, viva o assistencialismo.
Desde que não se pense que ele será capaz, mesmo a longo prazo, de levar os beneficiários à inclusão na economia e na sociedade.
Ideologia, Lula não tem. O pouco que havia virou "bravata", segundo ele próprio, e foi atirado à lata de lixo da história. Partido também não tem. Está "desmoralizado", sempre segundo Lula. Virou máquina de eleger caciques, exatamente como os muitos partidos coronelísticos que ajudaram ou ajudam a perpetuar oligarquias regionais.
Diz-se de esquerda, mas é o partido favorito dos banqueiros, com muita, mas muita folga. Paga a seus financiadores com juros que lhes proporcionam lucros recordes.
A cobertura do andar de cima só pode rir à toa com seu "sapo barbudo" domesticado.

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