Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Editorial de Folha de S Paulo

RECORDES BANCÁRIOS
Os grandes bancos continuam a gozar de uma posição extremamente privilegiada dentro da economia brasileira. É o que revelam os balanços financeiros, divulgados nos últimos dias, relativos ao desempenho em 2005 das maiores instituições financeiras atuantes no país. As grandes corporações financeiras -não importa se sob controle público ou privado- auferiram no ano passado lucros altíssimos, em vários casos recordes históricos.
O fato de tratar-se de um movimento generalizado indica que, para além das decisões gerenciais e estratégicas de cada instituição, pesou decisivamente para a obtenção de tamanha rentabilidade o ambiente de negócios em que operaram.
Embora presente há anos, não deixa de ser perturbadora a diferença entre o desempenho dos bancos e a performance pífia da economia brasileira. No ano de 2005, o PIB do Brasil cresceu apenas cerca de 2,5%, um ritmo bem inferior ao da economia global (4%) e, mais ainda, da média das grandes economias emergentes (6%). Há um contraste evidente entre rentabilidades sobre o patrimônio superiores a 30% e o medíocre desempenho do país. A política econômica e a regulação financeira ainda não foram capazes de induzir os bancos a contribuir mais decisivamente para o desenvolvimento.
A sofisticação do sistema financeiro ajuda a explicar a rentabilidade das instituições. Elas estão aptas a prosperar num ambiente que combina taxas de juros altíssimas, propiciando ganhos enormes com a dívida pública, e baixo (embora crescente) volume de crédito. Um ganho elevado é obtido nas operações de empréstimo graças a "spreads" -diferença entre o custo dos bancos ao captar recursos e as taxas que cobram ao emprestá-los- também elevados.
Estimular grandes bancos a ofertarem crédito de longo prazo às empresas, a custo compatível com o retorno dos investimentos produtivos, é um desafio que a política econômica simplesmente não enfrentou.

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