Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Miriam Leitão Prazo dos tucanos

O GLOBO

“Se o escolhido for o companheiro Serra, estaremos nós na frente do trabalho para ele ser eleito”, disse-me o governador Geraldo Alckmin. Ele rechaça a idéia de que está dividindo o PSDB. “As pessoas têm que aprender a viver na democracia. Democracia não é a paz dos cemitérios, é agitação, é efervescência.” A direção do PSDB está trabalhando com uma data limite: “até dia 12 de março, ou um pouco antes, será definido o candidato do PSDB”, informou um integrante da direção partidária.

Alckmin diz que a campanha ainda não começou:

— Ela só começa quando mudar o horário da novela.

O governador diz isso no meio da estrada, depois de inaugurar um restaurante “Bom Prato” em Sorocaba, indo para Iperó, onde lançaria um programa focado nos 200 municípios com o menor IDH. Na noite de terça-feira, ele se reuniu com 50 deputados da bancada federal de São Paulo, já fez várias reuniões com lideranças do partido, bancada estadual, políticos de outros estados. No dia 7 de março, vai ao Nordeste se reunir com os tucanos da região.

O PSDB aparece dividido e confuso entre dois candidatos. E está, de fato. O que um dirigente do partido conta é que o PSDB está entre “duas pessoas que querem muito ser o candidato” e que precisa trabalhar para que, neste processo de escolha, os times dos dois não entrem em conflito público e para que, qualquer que seja o escolhido, o outro o apóie.

— Perguntamos a cada um o seguinte: você é candidato em qualquer circunstância? Ambos disseram que não e isso facilita. Queremos que o processo de escolha não desagregue o partido, porque não queremos ser um PMDB, em que sempre vai cada um para um lado — afirmou um dirigente partidário.

O governador de São Paulo acha que sua decisão de concorrer não é causa de divisão alguma no partido. Diz que tudo o que faz é natural:

— Estou cumprindo todas as etapas do processo, falando com todas as instâncias partidárias. O partido está, sob o comando do presidente Tasso Jereissati, construindo o entendimento. O partido tem tempo até 31 de março para tomar a decisão, mas acho que toma antes, na primeira quinzena do mês que vem.

Perguntei a ele o que o leva a achar que é melhor candidato que o prefeito José Serra que, em todas as simulações, aparece com mais intenção de voto que ele.

— Eu não acho que sou nem melhor, nem pior. Apenas acho que as pesquisas devem ser vistas relativamente. Não posso ser comparado com quem disputou duas eleições presidenciais — disse. Alckmin se referia a Serra e, por duas eleições, está se referindo aos dois turnos.

O governador de São Paulo acha que as pesquisas de hoje não são exatamente intenção de voto e, sim, nível de conhecimento dos candidatos. São, segundo ele, “retratos do passado”. Ele argumenta que tem 17% a 18% de intenção de voto, o mesmo nível que tinha quando começou a campanha para governador.

— Quando a campanha realmente começar e a população concentrar sua atenção, eu vou crescer. No Brasil, 17% é um piso muito alto — avalia.

A análise feita por um líder tucano é que, se até o dia marcado, 12 de março, o prefeito de São Paulo não tiver ainda decidido, o partido tenderá a apoiar Geraldo Alckmin. A própria indefinição atual, argumenta, favorece o governador de São Paulo. O temor que se tem no PSDB é de encolhimento do partido em caso de derrota. O raciocínio é o seguinte: se Serra sai candidato e perde, o PSDB fica sem o estado, sem a prefeitura, sem a presidência. Por outro lado, os tucanos acham que, qualquer que seja o candidato, ele sairá com uma boa alavanca: São Paulo e Minas, onde, na visão deles, o eleitorado votará mais no candidato tucano que no PT.

Alckmin, nos últimos tempos, tem ido falar com integrantes do mercado financeiro, empresários, economistas. Não só ele. O ex-governador do Rio, Garotinho, também tem ido falar para o mesmo público. Alckmin impressiona bem. Chega com pastas, com dados de ajuste fiscal e de programas de governo. Quando o tema é polêmico, como política cambial e monetária, ele prefere mais perguntar do que dizer o que pensa. Na conversa no Rio, na Casa das Garças, deixou os economistas falarem e ouviu com atenção a tese de que corte de gastos não é recessivo e, sim, o contrário: permite queda mais forte dos juros e, portanto, crescimento.

No PSDB, a maioria acha que a indefinição e a disputa pela candidatura está prejudicando o partido e o fazendo perder pontos nas intenções de voto. Mas considera-se que isso é temporário e que o eleitorado que migrou agora de volta para Lula é flutuante: da mesma forma que foi, voltou e pode sair de novo quando a campanha realmente começar.

O PSDB apostará na polarização com o governo do PT. O que ele temia não aconteceu: o aparecimento de uma novidade eleitoral. Sendo assim, prepara-se para mostrar que sabe manter as contas em dia e que seus quadros são eficientes gestores públicos. Acham ainda que o presidente Lula durante a campanha ficará na defensiva tentando se esquivar das denúncias que serão relembradas por todos os candidatos.

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