O Globo |
24/2/2006 |
Pois é, oficialmente começa amanhã. Evoé para todos, se é que ainda se usa a velha saudação latina ao deus Baco. Mas este artigo é dedicado a todos os alienados que fogem do carnaval. Evidentemente, trata-se de fuga sem honra ou glória. Nem, ao comentá-la, pretende-se qualquer restrição à alegria e à beleza da festa. Houve tempo, até, em que fui dedicado folião. Só perdi o entusiasmo depois de certa idade. Mais ou menos, aos 10 anos. Até então, as festas eram maravilhosas. A gente gritava e pulava sem parar. Ninguém nos cobrava afinação ou ritmo. Não cantávamos, urrávamos; não dançávamos, corríamos. O que poderia ser melhor para um jovem cavalheiro desprovido totalmente de ritmo e afinação? Tínhamos lança-perfume para mirar nas pernas das meninas (sem qualquer intenção lúbrica: era só para desfrutar o extraordinário prazer de vê-las uivar de indignação). As bisnagas serviam também para o másculo passatempo de matar formigas. E o confete era arma de combate, lançada na boca aberta dos distraídos (dos distraídos menores que nós, claro). Um dia, todos subitamente adolescemos. E o carnaval ganhou inesperados encantos lúbricos. Menos para alguns, como os franzinos, sardentos e de óculos. Adivinhem em que time jogava o acima assinado. Anos mais tarde, o sambódromo me reaproximou do carnaval. Nos primeiros anos, os camarotes, bem menores do que hoje, ficavam no nível da pista. E era agradável, até para os desritmados e desengonçados da vida, gastar o tempo passeando na pista, visitando o uísque dos amigos no intervalo entre uma escola e outra. Tive, certa vez, a excelsa honra de perder uma de minhas virgindades. Um camarote amigo entrou em choque com o de vizinhos italianos e algumas cadeiras voaram de um lado para o outro. Não quero me gabar, mas fui o intrépido lançador de uma delas — das primeiras! — que não acertou cabeça alguma. Em minutos se fez a paz. Ali briguei pela primeira e última vez na vida. E fiquem sabendo que o incidente foi fotografado, saiu na primeira página de um jornal do Rio e, juro que é verdade, a AP mandou a foto para o mundo e foi publicada (sem identificação dos contendores, infelizmente). A memória não me garante, mas creio que foi num jornal indonésio. Quem tiver façanha mais notável que conte a sua. E o episódio esgota minha biografia carnavalesca. E seu relato, desnecessário e desimportante, cumpre a sua obrigação de encher este espaço, neste momento em que falar de qualquer coisa que não seja a festa popular mais linda do mundo é alienação demais. Mais uma vez, evoé para todos. Vou subir a serra, vestir minha surrada fantasia de pseudo-intelectual e assumir meu lugar no bloco “Ler é o melhor remédio”. Desfilo nele todos os anos, em qualquer sala que não tenha uma televisão ligada. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, fevereiro 24, 2006
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