"Tirei duas semanas de folga. Nunca atraí
tanto interesse dos leitores quanto nesse
período de ausência. É um fato preocupante.
Minha coluna tem mais repercussão quando
não é publicada do que quando é"
Tirei duas semanas de folga. Fui resolver uma questão legal na Itália. Nunca atraí tanto interesse dos leitores quanto nesse período de ausência. É um fato preocupante, que põe em risco o prosseguimento de minha carreira. Minha coluna tem mais repercussão quando não é publicada do que quando é. Centenas de leitores mandaram mensagens perguntando o que havia ocorrido comigo. Colegas da imprensa também especularam sobre o real motivo de meu desaparecimento. Eu sou um fracasso. Quando apresento documentos que revelam as manobras contábeis da Telecom Italia, ninguém se dispõe a investigar se o dinheiro da empresa foi parar nas contas do PT. Quando tiro duas semanas de folga, subitamente se lembram de mim.
Quase todos os leitores suspeitaram que eu tivesse sido punido por pressão do governo. Havia um tom de revolta em suas mensagens. Um tom de rebelião armada. Jacques Pennewaert: "Isso cheira a censura, como a saída de Boris Casoy da Record". Ralf Milbradt: "VEJA se entregou aos moicanos?". Sonia Khouzan: "O colunista foi demitido?". Fernanda Oliveira: "Finalmente Lula e seus companheiros conseguiram o impossível e mandaram Diogo para o exílio?". Maury Fonseca Bastos: "Prenderam ele?". José Lopes Germano: "Foi seqüestrado?". Respondendo-lhes: não fui censurado, não fui entregue aos moicanos, não fui demitido, não fui exilado, não fui preso, não fui seqüestrado. De fato, enquanto os leitores se preocupavam com meu destino, eu estava no Friuli, empanturrando-me alegremente de presunto cru e polenta.
Mas o verdadeiro temor dos leitores não era relacionado ao meu futuro. Eles estão se lixando para o que acontece comigo. Eu represento apenas um interesse circunstancial. Quem melhor resumiu esse estado de espírito foi minha admiradora Claudia Zuppani. Ela mandou a seguinte mensagem a VEJA: "Gostaria de saber por que a coluna de Diogo Mainardi não foi publicada nesta semana. Espero sinceramente que ele esteja doente". Ou seja: não importa se estou num leito de hospital, com tuberculose, cuspindo sangue, delirante, à beira da morte. Para ela, o que importa é que eu possa continuar a falar mal do Lula. Embora seja um golpe brutal contra meu amor-próprio, sou obrigado a reconhecer que minha admiradora está absolutamente certa. É preciso tomar cuidado com os impulsos autoritários dos lulistas. Eles sempre tentarão calar os outros, estando ou não no governo. Em 2002, Lula foi eleito com uma plataforma de pacificador social. Em 2006, só lhe resta a surradíssima bandeira revanchista, de confronto entre pobres e ricos, entre bons e maus. Nesse confronto, a liberdade de opinião será associada aos maus.
Quanto a mim, recomendo que os leitores não me vejam como um perseguido. Eu sou o exato contrário disso. Eu sou o testemunho perfeito de que achincalhar o governo é fácil, divertido e altamente lucrativo. E agora chega, porque tenho de ir à praia.