Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Clóvis Rossi - Viva a campanha




Folha de S. Paulo
24/2/2006

Por fim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acertou uma ao dizer que homem público faz campanha todos os dias e todas as noites de todos os anos. E é bom que seja assim: campanha é uma maneira de prestar contas ao público.
Se a campanha é feita de maneira honesta ou desonesta, aí é outra discussão. Desonestos, por exemplo, são os resmungos do tucanato culpando o mecanismo da reeleição pelo fato de Lula ter recuperado popularidade, na medida em que faz campanha usando o cargo.
Quem foi que inventou, no Brasil, a reeleição, inclusive comprando votos para aprovar o instituto?
É igualmente equivocada a queixa de que a reeleição permite o uso da máquina, conferindo ao titular do cargo uma vantagem indevida sobre os demais concorrentes. Lembra-se de Orestes Quércia? Não podia ser candidato à reeleição que inexistia, mas elegeu seu candidato, Luiz Antônio Fleury Filho, então virgem em disputas eleitorais, à custa da quebra do Banespa.
O problema não é a reeleição, mas os maus costumes políticos.
Fernando Collor não ganhou porque usou a máquina, que não tinha, a não ser a do paupérrimo Estado de Alagoas. Ganhou porque usou toda a desonestidade propagandística possível, com conivência e/ou apoio de parte importante da mídia.
Mesmo Fernando Henrique Cardoso ganhou em 1994 sem inaugurar uma só obra, porque não havia o que inaugurar. Havia o Plano Real.
Que a reeleição favorece quem está no trono é óbvio. Nos Estados Unidos, por exemplo, nos últimos 70 anos, só dois presidentes eleitos não se reelegeram (Jimmy Carter e George Bush pai), além, é claro, de John Kennedy, assassinado no primeiro mandato.
A maioria do eleitorado é inerentemente conservadora. Prefere o conhecido, a não ser quando o acha calamitoso, ao novo. À oposição cabe, em vez de reclamar, provar que o presidente é uma calamidade.

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