O crescimento econômico médio do Brasil nos últimos 15 anos foi de 2,5% ao ano. Como a instituição do Sistema de Metas de Inflação é de 1999, não dá para despejar a culpa desse avanço medíocre apenas sobre os juros escorchantes.
Sexta-feira, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, não vacilou. Em nota oficial, deu seu recado: "A única alternativa coerente de promover o crescimento econômico do País é cortar o gasto público."
A gente roda e roda e volta sempre ao mesmo ponto. A mãe de todas as mazelas da economia brasileira é essa incorrigível propensão do governo a gastar demais.
Como não é outra coisa senão déficit acumulado, a dívida pública só chegou aonde chegou e só está estruturada como está porque o governo tenta caminhar além do que agüentam suas pernas. A inflação é fundamentalmente um fenômeno monetário: é dinheiro perdendo valor. É o resultado de um truque manjado e, como tal, falido: emitir moeda para pagar as contas.
Do Plano Real até agora, as conquistas nesse campo foram impressionantes: a inflação foi razoavelmente domada; a Lei de Responsabilidade Fiscal está funcionando; a formação de um superávit primário reforçou a disciplina orçamentária; mal ou bem, o sistema de metas vai ajudando a enquadrar a inflação; o regime de câmbio flutuante facilitou o ajuste; e o sistema globalizado também vai dando uma mãozinha, porque vai operando a economia dos países centrais com inflação baixa e fartura enorme de recursos.
Mas não dá para ignorar os problemas que persistem, apesar dos avanços. No ano passado, as despesas correntes do governo federal aumentaram mais de 10%, muito acima da inflação (de 5,7%) e do avanço do PIB (2,3%). O rombo da Previdência Social é galopante e insustentável. Não há mais como aumentar a carga tributária, que hoje corresponde a 38% de tudo quanto o País produz.
Enfim, há um enorme desequilíbrio fiscal ainda à espera de equacionamento. Nessas condições, o ritmo da produção acaba sendo comprometido pela inflação. É só a economia crescer um tantinho a mais que a inflação volta e exige pisada nos freios, como aconteceu em 2004. Enfim, esta é a marcha amarrada que os economistas chamam de stop and go (pára e avança).
A sina acima descrita dividiu os economistas sobre o que fazer. Sempre houve aqueles que privilegiam o crescimento econômico, ainda que com algum custo inflacionário; e houve aqueles que entendem que, sem controle da inflação, não há crescimento sustentado. Enquanto viveu, o professor Celso Furtado não escondeu seu ponto de vista de que "sem inflação não há desenvolvimento". Hoje, ficou difícil encontrar quem sustente afirmação tão categórica. Mesmo entre os economistas de esquerda - seja lá o que isso signifique - prevalece a posição de que, sem equilíbrio fiscal não há nem crescimento nem política social que se sustente.
Mas, aqui no Brasil, são muitos os que não se conformam e ainda afirmam que uma turbinada no crescimento é bem-vinda e que um pouco mais de inflação não vai fazer muita diferença.
É um tema que rachou o ministério do governo Lula e empurrou o comando do PT em direção a mais criação de empregos e menos ortodoxia.
Curiosa e paradoxalmente, a queda-de-braço está sendo desempatada pelo presidente Lula que não parece ter feito uma opção técnica. Lula continua enfatizando a luta contra inflação não porque ela devesse ter prioridade sobre uma política de crescimento sem base. Mas porque entendeu que a derrubada da inflação lhe dará mais votos do que o esquentamento da produção que garantisse um certo aumento do emprego.ming@estado.com.br