Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Editorial da Folha de S Paulo CONTAS EXTERNAS

FOLHA
Em janeiro , o saldo das transações correntes -trocas de bens e serviços do Brasil com o exterior- ficou negativo em US$ 452 milhões. O déficit quebrou uma série de 13 meses consecutivos de saldos positivos e resultou da antecipação do envio de lucros e dividendos de empresas multinacionais instaladas no país para suas matrizes. Tais remessas foram de US$ 1,5 bilhão, quatro vezes o valor de janeiro de 2005.
A expectativa do Banco Central é que as transações correntes voltem a ser superavitárias nos próximos meses. O otimismo se lastreia na crença de que a balança comercial não se distancie muito do bom desempenho de 2005. Apesar da queda do dólar, o saldo comercial continua elevado. Em janeiro, o superávit foi 30% superior ao obtido no ano anterior.
Movimento notável foi do setor privado, que aproveitou a farta liquidez internacional e a redução do risco-país para ampliar suas captações no exterior. Foi tomado US$ 1,2 bilhão em janeiro, o suficiente para rolar sete vezes o montante dos débitos que venceram no mês. A resultante é um aumento da dívida externa das empresas, o que vai contra a tendência prevalecente desde o início de 1999.
Já a dívida pública continua em queda acentuada. Seu estoque veio a US$ 86,4 bilhões em janeiro com o pagamento adiantado ao FMI e ao Clube de Paris. Aprofundando a política, o Tesouro acaba de anunciar o resgate antecipado dos bônus Brady -US$ 6,6 bilhões relativos à renegociação da dívida em 1994. O governo também pôs em marcha a isenção do Imposto de Renda para estrangeiros que adquiram títulos públicos.
Tudo ajuda a consolidar um cenário favorável às contas externas e favorece a queda rápida do risco-país. A conjuntura internacional e as decisões do Tesouro vão diminuindo rapidamente a vulnerabilidade do Brasil a crises cambiais. Estimulam a redução do custo extra que empresas e setor público brasileiros pagam ao tomar empréstimos fora.
Mas vigor e ousadia comparáveis não se vêem na administração da taxa básica de juros pelo Banco Central. Esse é um problema sério de desarticulação entre dois setores do governo que tem imposto ônus desnecessários ao conjunto da sociedade.

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