No Fórum de Davos deste ano, realizado de 25 a 29 de janeiro, o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos e, há uma semana, ex-reitor da Universidade de Harvard, Larry Summers, chamava a atenção para este momento excepcional da História, "uma transformação tão importante quanto foi o Renascimento ou a Revolução Industrial".
Se há exagero nisso, a própria História se encarregará de corrigir. O fato é que mais de 1 bilhão de pessoas já tem acesso à internet e outro 1,5 bilhão usa telefones celulares. E isso está mudando muita coisa. Os custos de produção estão sendo drasticamente achatados; conhecimentos estão sendo partilhados à velocidade da luz; o mercado mundial está assistindo a um leilão para baixo de preços e salários. Já não dá para distinguir bens comercializáveis (tradeables) de não comercializáveis (non tradeables), dois conceitos clássicos da teoria econômica.
Como lembrou o professor Marcos Jank em artigo de 7 de fevereiro no Estadão, "um notebook da marca Dell envolve a coordenação de 400 firmas estabelecidas em 15 países". Não faz mais sentido falar em país de origem de produtos assim, nem separar componente físico de pura obra de engenharia e projeto.
Ainda não estamos em condições de avaliar a magnitude do impacto da internet e da Tecnologia da Informação sobre o sistema de produção, a distribuição de riquezas do mundo e o comportamento do ser humano. Sabemos apenas que é enorme.
Mas há outro fenômeno de grandes proporções que, ao mesmo tempo, é conseqüência e causa das grandes transformações de hoje. Trata-se da rápida incorporação de bilhões de asiáticos ao mercado global de consumo.
Durante muitos anos ouvimos que o movimento de globalização é essencialmente excludente, como se multiplicasse a pobreza e concentrasse a riqueza do mundo. Agora, sabemos que só a China vai incluindo, a cada ano, cerca de 40 milhões de pessoas nos mercados de trabalho e de consumo. Esse número equivale a mais do que uma Argentina por ano. E temos ainda o rápido desenvolvimento da Índia, da Coréia do Sul, do Vietnã, da Tailândia e da Malásia.
Em apenas três gerações o Ocidente empurrou metade de sua população (as mulheres) ao mercado de trabalho. Agora se vê que outra metade (ao menos os 2,3 bilhões da China e da Índia) é empurrada para dentro da sociedade de consumo.
Para o bem e para o mal, não dá para ignorar os efeitos dessas novidades e sua velocidade sobre o mercado de matérias-primas, o comércio mundial, as condições do meio ambiente e as culturas regionais.
Os últimos informes da Economist Intelligence Unit mostram que o consumo de petróleo pela China cresceu em 2004 cerca de 15% e seguiu forte em 2005, apesar dos números oficiais, em que poucos acreditam, que falam em queda de 0,2%. Como o mundo continua movido a petróleo, só em conseqüência da escalada asiática a escassez tende a crescer e com ela, os preços.
Hoje, tudo o que acontece na economia chinesa tem conseqüências sobre a economia mundial: fluxo de capitais, juros, câmbio, comércio exterior, salários - tudo está sob o vendaval.
Enquanto isso, o sindicalista agarrado ao rabo do elefante amaldiçoa a cupidez do patrão, sem levar em conta que este é só um pedaço da explicação. O produto chinês está sendo despejado em todos os portos a uma fração do preço do produto local.
E o empresário, também sem visão de conjunto, engrossa suas críticas sem levar em conta que o câmbio brasileiro também vai vergando diante do aumento das exportações de commodities (para a China).