Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 25, 2006

MERVAL PEREIRA PSOL pede passagem

O GLOBO

O deputado federal Chico Alencar, aproveitando estes dias de carnaval, manda uma mensagem à coluna lembrando que “há mais vias na terceira via do que o PMDB”, e pede para que eu não esqueça “desta pequenina e dedicada ‘escola’ do Grupo de Acesso, que vai entrar com tudo na avenida eleitoral pela primeira vez: o Partido Socialismo e Liberdade, PSOL”.

Muito cariocamente, ele lembra que a sigla tem o número 50, que representa galo “na loteria zoológica inventada pelo Barão de Drummond: Chanteclair, anunciador do dia”. Chico Alencar chama a atenção para o fato de que não é irrelevante “a nossa pré-candidata, Heloísa Helena — que não faz outra coisa nos últimos tempos senão dedicar-se à CPMI dos Correios, onde entra às 9h e sai tarde da noite, e nunca disputou pleito nacional ou governou estado — estar consolidada com seus de 5% a 9% de intenções de voto, dependendo dos contendores”.

Não é irrelevante também “a atratividade inaugural que ela e o PSOL exercem especialmente na juventude e na mulherada, justamente os setores onde Lula e o PT têm mais desgaste, e onde Serra-Alckmin/PSDB ou o PMDB (Partido da Miscelânea...) não levam ânimo”. A orfandade ideológica que o PT deixou, espaço que o PSOL quer ocupar, “não é pequena”, lembra Alencar, que admite que “não será pequeno o esforço e grande a dificuldade para superarmos a cláusula de desempenho”.

Ele cita, porém, diversas lideranças regionais que poderão ajudar o PSOL a obter os 5% de votos nacionais, e 3% em pelo menos nove estados: no Pará, com o ex-prefeito de Belém Edmilson Rodrigues à frente, no Ceará o deputado João Alfredo, no Distrito Federal a deputada Maninha, em São Paulo Plínio de Arruda Sampaio e deputados Ivan Valente e Orlando Fantazzini, no Rio, Milton Temer, Eliomar Coelho, Babá e ele mesmo, em Santa Catarina, deputado estadual Afrânio Bopré e no Rio Grande do Sul, a deputada Luciana Genro. “Teremos fortes puxadores de legenda”, constata Alencar.

Segundo ele, o recém-nascido PSOL, “que engatinha com austeridade franciscana, está apostando na eficácia da transparência e dos meios pobres”. Independentemente da lei, seus candidatos vão revelar em tempo real recursos, doadores e gastos de campanha. “Não aceitaremos contribuições de empresas com passivo ambiental e trabalhista, nem de bancos”, garante. No encontro nacional de abril, serão traçadas as linhas básicas do programa para o Brasil, e já há negociações com outros partidos, como PCB e PDT. Chico diz que “há muitas boas cabeças cimentando o caminho alternativo, e um razoável ‘cansaço social’ em relação às mesmices do PT e do PSDB”.

O PSOL está disposto a disputar “com ânimo militante o eleitorado que foi jogado na orfandade pela degeneração ética do PT, que deveria ser sim execrada”. Para os componentes do novo partido, estas serão “as eleições da incógnita”, até que as urnas sejam abertas. “Muitas surpresas nos aguardam, depois de tudo o que aconteceu. O PT não terá, nem de longe, o voto de legenda que tradicionalmente sempre teve. Já nós poderemos trabalhar para obtê-los, pelo perfil doutrinário e programático coletivista”, lembra Chico.

Ele diz que o PSOL vai oferecer aos eleitores “ao invés de nomes, de ‘lulano e serrano’, jogo feio de manutenção ou recuperação do poder, um programa mínimo, centrado na democratização do Estado, o que inclui ética e transparência nos seus negócios e reforma política”. Apesar de dizer que o PSOL “não será o velho contrismo”, Chico Alencar, sem levar em conta que a dívida externa acabou na prática com a compra dos últimos U$ 6 bilhões em títulos pelo governo brasileiro, anuncia como um dos pontos do programa, em defesa da soberania nacional, “a renegociação, nos fóruns internacionais, da dívida externa e contenção, no plano interno, do rentismo especulativo, caminho irrenunciável para uma efetiva distribuição de renda e riqueza”.

O projeto seria “a construção de uma alternativa ao social-liberalismo que tanto aproximou o governo Lula do de FH, e que vão se atacar mortalmente, ambos com carradas de razão”. Professor de História, Chico Alencar lembra uma frase de Justiniano José da Rocha, analista político do Império: “O liberal flagela o conservador, o conservador flagela o liberal, e o imperador tem em má conta um e outro”. “Troque-se imperador por povo e estaremos no Brasil 2006”, ironiza.

Para Chico Alencar, o PSOL tem “sonho alto com o pé no chão, lembrando que campanha do milhão acaba, inevitavelmente, em mensalão”. Ele diz que a campanha do novo partido será verdadeira, “onde o proclamado será o praticado, ao contrário do que aconteceu em 2002”. Ele lembra que o deputado federal do PDT Miro Teixeira “lembra bem a necessidade de alertarmos Sua Excelência o eleitor, neste momento de fortalecimento do ‘lulismo’, quanto a se proclamar em campanha o que, de verdade, se fará no governo. Falar uma coisa e fazer outra, como Lula e o PT procederam no caso da Previdência, da política macroeconômica, dos transgênicos, da blindagem de acusados (Waldomiro, Meirelles), por exemplo, abala a credibilidade do sistema representativo”.

O PSOL e seus aliados se propõem a “cobrar cada candidatura sobre seus pontos concretos, como leis trabalhistas e paridade de aposentados”. E sobre autonomia do Banco Central, política nacional de segurança pública, controle de capitais e contas no exterior. Outra vantagem que Chico Alencar vê no PSOL: “seremos dos poucos partidos, nesta campanha, a ter generosos voluntários nas ruas defendendo seus ideais, e isso há de sensibilizar a imensa maioria dos sem-partido, dos desencantados com a política, depois da debacle do PT, de quem Lula está, espertamente, cada vez mais descolado”.

E termina carnavalescamente, anunciando: “Olha o PSOL aí, gente!”.

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