Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 26, 2006

CLÓVIS ROSSI Não era jabuticaba

folha
SÃO PAULO - Volto ao "juro jabuticaba", coisa que só dá no Brasil. Explico: em agosto de 2004, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária, o que decide a taxa de juros) dizia o seguinte: "Mesmo que o cenário inflacionário venha a requerer um ajuste na taxa de juros básica, é importante reiterar que isso não acarretará prejuízos ao processo de crescimento sustentado da economia".
Qualquer criança de colo que tenha um neurônio sabe que essa afirmação é cretina. Juros altos inibem o crescimento em qualquer país do mundo, mesmo no país da jabuticaba, como o demonstra o pífio resultado de 2005.
No entanto os sábios do BC continuam todos com seus empregos, embora responsáveis por uma afirmação que, ou é fruto de cretinismo irreversível, ou é pura e simplesmente uma baita mentira.
Com ela, enganaram o presidente da República, que nunca sabe de nada do que ocorre à sua volta e comprou a tese do BC a ponto de "chutar" que o crescimento de 2005 seria de 5%. Não foi nem a metade.
Mas, no Brasil, nem o Banco Central se sente compelido a prestar contas de uma política que 11 em cada 10 economistas minimamente sérios acham estúpida, nem o presidente da República se vê forçado a explicar como é que tem o desplante de "chutar" números sem o menor parentesco com a realidade.
Nada disso importa. O Carnaval já chegou, o pessoal cai na folia e, na quarta-feira, mentiras, "chutes" e afirmações grotescas viram cinzas.
Para o andar de baixo, basta a esmolinha das bolsas-isso-ou-aquilo, até porque ninguém lhe diz que, em janeiro, o governo pagou de juros R$ 17,9 bilhões. Em um só mês, mais do que o dobro de tudo o que gastou durante todo o ano passado com programas de transferência de renda para os mais pobres.
Depois, Lula ainda diz que ninguém fez tanto pelos pobres. Sim, pelos paupérrimos Itaú, Bradesco, Santander etc.

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