"A Santíssima Trindade do PSDB não consegue se desembaraçar da encrenca em que se meteu com a escolha do candidato do partido às eleições de 2006.
Ontem, até o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, já estava admitindo algum tipo de prévia.
Mas não é fácil, a esta altura dos combates, organizar prévias num partido espalhado em todo o país.
O PSDB não é propriamente um partido de massas, como o PT, que tem militantes registrados, tem tradição de realizar prévias e consultas. Recentemente, o PT elegeu sua nova direção em eleição direta.
Já o PMDB, um partido fortemente regionalizado, decidiu desde o ano passado realizar prévias para a escolha de seu candidato. E só vai fazer essas prévias no dia 19 de março.
Como é que agora, o PSDB vai organizar rapidinho uma ampla consulta ao partido sobre o melhor candidato?!
Como é que vai ser composto este colégio eleitoral? Os governadores vão ser ouvidos? E por que não os prefeitos? E as bancadas nas assembléias legislativas e nas câmaras de vereadores? Não é uma tarefa simples.
O governador Geraldo Alckmin parece querer que a consulta se restrinja ao partido. Ele já tem o apoio de vários governadores, de boa parte da bancada federal, de alguns prefeitos importantes. Ontem, recebeu o apoio da bancada tucana na Assembléia paulista e também do diretório estadual do partido.
Já o prefeito José Serra parece confiar no recall do eleitorado. Ou seja, na lembrança que seu nome ainda desperta nos eleitores, desde 2002, quando foi o anti-Lula.
Qual vai ser o critério adotado pelos cardeais tucanos? Vão ouvir as instâncias partidárias ou continuarão confiando nas pesquisas? Não é uma decisão simples.
Claro que quem elege é o eleitorado, mas quem carrega a campanha é o partido. Em 2002, Serra não conseguiu inspirar nos tucanos um grande entusiasmo para que se empenhassem em sua campanha. O próprio presidente Fernando Henrique não se interessou muito em eleger o sucessor.
Acontece que o primeiro passo para que um candidato possa ter alguma esperança de sucesso é conquistar o apoio do seu partido. Candidato que não tem seu partido atrás de si, empenhado em sua campanha, não vai muito longe.
Portanto, o dilema do PSDB continua do mesmo tamanho. E o tempo corre contra os tucanos. Quanto mais demorar a solução, maior será o abismo entre Serra e Alckmin e maior será a vantagem do presidente Lula, que continua fazendo campanha sem ter adversários."