o globo
O preço da gasolina vai aumentar por dois motivos: pela decisão de reduzir a mistura do álcool à gasolina e porque os produtores disseram que não vão segurar os preços do álcool. Tentando evitar a primeira das pressões de preços, a Fazenda estuda a redução da Cide da gasolina. Os produtores vão antecipar a produção de 800 a 900 milhões de litros, diz o presidente da Unica.
Hoje vai para o Diário Oficial a decisão de reduzir a mistura do álcool à gasolina. Ontem estava pendente só de detalhes burocráticos. O problema foi constatar que a redução da mistura vai aumentar em 2% a 3% o preço da gasolina, já que está saindo um item mais barato, o álcool, e sendo acrescentado um mais caro, a gasolina. Uma solução estudada: reduzir a Cide para compensar o aumento.
Mas há outra pressão: os produtores avisaram, na reunião com o governo, que é impossível segurar o preço num momento em que a demanda cresce e os preços internacionais aumentam.
Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica, associação que reúne os usineiros, garante que eles farão de tudo para garantir o abastecimento do mercado interno:
— Temos medo de que o consumidor imagine que agora será de novo como nos anos 80. Ele já tem o trauma da falta do álcool naquela época. Nada é mais importante para nós do que o mercado interno — diz.
O externo também é importante. A barreira contra a exportação foi proposta pela ministra Dilma Rousseff, mas derrubada pelos outros ministros com o argumento de que isso levaria a rompimento de contrato internacional.
A decisão de incluir o álcool na lista de exceção da TEC já está sendo implementada. A alíquota de importação será zerada. Mas de pouco adianta. O Brasil hoje domina o mercado internacional sucroalcooleiro de uma forma impressionante.
No açúcar — o outro lado do álcool — o Brasil é o maior produtor, o maior exportador e está ocupando todos os espaços deixados vagos por crises de outros produtores e pela queda da produção da Europa. No ano passado, a exportação cresceu 15% e o Brasil passou a abocanhar 37% do mercado externo. O açúcar europeu sempre teve uma enorme carga de subsídio. Esse subsídio tem diminuído, abrindo espaço para produtores competitivos. O Brasil tem condições de ocupar, pelo menos, metade deste espaço no mercado.
— O açúcar mais competitivo do mundo é o do Sudeste brasileiro, o segundo mais competitivo é o do Nordeste brasileiro; depois é que vêm os outros produtores — comenta o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Ele tem uma visão de longo prazo do setor. Imagina que o Brasil deve desenvolver projetos de grande porte, verdadeiros “clusters energéticos” nas usinas de açúcar e de álcool.
— Na agroenergia, o potencial de crescimento do país é alucinante — afirma o ministro, que deve instalar, em breve, uma unidade da Embrapa apenas para estudar agroenergia.
Segundo Roberto Rodrigues, o Brasil ocupa hoje seis milhões de hectares com a plantação de cana; uma área quase igual a três Sergipes.
— Nos próximos oito anos, precisaremos ocupar mais três milhões de hectares só com a plantação de cana — diz ele.
O país hoje produz 16 bilhões de litros de álcool por ano e, só com o aumento do número de carros flex, o consumo pode aumentar em mais 12 bilhões de litros. No açúcar, os preços estão em alta no mercado internacional (veja gráfico) e, aqui dentro, o álcool tem subido.
O setor tem amplas avenidas no Brasil e é um caso de sucesso. Mas tem dois problemas: a expansão das terras para a produção de cana tem que ser feita com mais rigor ambiental do que no passado; segundo, o setor tem que encontrar mecanismos de mercado para se proteger das oscilações de preços e formar estoques e não ficar pedindo que o governo garanta a estocagem. Alguns usineiros pensam assim e já estão em conversas com a BMF.
— O problema é que as distribuidoras não formam estoque, preferem comprar no mercado spot — diz o presidente da Unica.
No governo, eles se queixaram do contrário. Disseram que, em 12 dias de fevereiro, as distribuidoras compraram o consumo do mês inteiro e que isso pressionou os preços.